Ao som das escolhas musicais da DJ Tveryfriday, foram muitos os que escolheram festejar a longevidade do jornal que figura entre os 10 mais antigos em circulação em Portugal. Com bifanas, caldo verde e outras iguarias, a festa não acabou sem bolo de aniversário e sem que se soprasse as velas em homenagem às gerações de mulheres e homens que contribuíram para a continuidade histórica de uma publicação que nunca abandonou as suas raízes.
Foi a 11 de outubro de 1879 que os trabalhadores da indústria tabaqueira decidiram fundar A Voz do Operário, um jornal que desse voz às suas reivindicações. Como afirmou o sindicalista José Gregório de Almeida, em 1938, A Voz do Operário nasceu “da luta dos trabalhadores das fábricas de tabaco” face ao seu “esmagamento moral e material”, num tempo em que este era um dos setores operários mais “desgraçados”. Porque a imprensa generalista não lhes dava voz, um grupo de trabalhadores mais conscientes percebeu a importância de terem o seu próprio jornal.
Quando em 1879, esses operários tabaqueiros se juntaram para se estrearem nesta publicação era já evidente a inspiração de Karl Marx nos movimentos operários que então se inflamavam na luta contra as miseráveis condições de vida a que se viam atirados pelo crescimento industrial que se fazia à custa das suas precárias existências.
O “espetro” do marxismo pairou também por Portugal e a primeira página d’A Voz do Operário, em 14 de Outubro de 1879, assim o gravou: “a numerosa classe dos manipuladores do tabaco, despertando do letargo em que tem jazido e impelida pela necessidade, mestra da vida, fez um esforço supremo […] para se levantar do abatimento moral que lhe sufoca as suas justas aspirações e sair do abismo para onde a sua ignorância e indesculpável inação a arremessaram”. Era clara a adesão do coletivo do jornal às doutrinas socialistas e aos seus propagandistas, que tinham em Karl Marx expoente máximo.