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Palestina

A solidariedade Houthi e o apoio ocidental ao genocídio israelita dos palestinos

Desde o dia 7 de Outubro Israel já matou, pelo menos, 32.200 pessoas se tivermos em conta as pessoas que se encontram debaixo dos escombros, 12 mil dos quais crianças. Ou seja, 1 criança palestiniana é morta a cada 15 minutos. Mais de 60 mil pessoas ficaram feridas e/ou estropiadas.

Atualmente, 85 por cento da população de Gaza está deslocada internamente e enfrenta cortes regulares de telecomunicações, bem como escassez de alimentos, água e medicamentos. Segundo a ONU, metade da população de Gaza corre o risco de morrer de fome e 90% dos palestinianos não têm condições para comer todos os dias. Tudo isto resulta da decisão de bloqueio por parte de Israel.

Segundo a UNICEF, mais de 1,1 milhões de crianças na Faixa de Gaza estão em risco de vida devido ao aumento de doenças evitáveis, a que se junta a falta de água e de alimentos. Atualmente, 90 por cento das crianças com menos de dois anos estão sujeitas a uma situação de “pobreza alimentar grave”.

A destruição da rede hospitalar e o impedimento à entrada de material médico fazem com que, todos os dias, mais de 10 crianças percam uma ou ambas as pernas e, na maioria dos casos, a amputação tem de ser realizada sem anestesia.

Dos 1,9 milhões de pessoas atualmente deslocadas, 1,4 milhões estão em centros de abrigo sobrelotados, onde existe apenas um chuveiro para 4.500 pessoas e uma casa de banho para cada 220 pessoas.

Em pouco mais de 4 meses Israel matou cerca de 119 jornalistas. De acordo com um relatório do Comité para a Protecção dos Jornalistas , “o Exército israelita matou mais jornalistas em dez semanas do que qualquer outro exército ou entidade matou num ano” – pelo menos, desde que há registos.

Pressão dos Houthis para acabar com genocídio em Gaza

O genocídio cometido por parte de Israel contra o povo palestiniano, com consequências humanas sem precedentes na história moderna, continua a contar com a cumplicidade dos Estados Unidos e a passividade da chamada “comunidade internacional”. Em vez de fazer cumprir a Convenção de Genebra, decidem bombardear um país cujo o seu único objectivo é pressionar Israel para travar o genocídio em curso na Faixa de Gaza.

Desde meados de Novembro, os Houthis lançaram pelo menos 34 ataques a rotas marítimas internacionais e mais de 2000 navios foram forçados a alterar o seu curso. Nenhum navio mercante foi afundado pelos ataques dos Houthis, assim como não há qualquer registo de vítimas mortais, até ao momento.

A ação de solidariedade dos Houthis para com o povo Palestiniano causou um autêntico terramoto comercial. Cerca de 15 por cento do comércio marítimo global passa pelo Mar Vermelho, incluindo 12 por cento do petróleo comercializado por mar. 40 por cento do comércio entre a Ásia e a Europa também passa pelo Canal de Suez. Grandes empresas como a Maersk e a Hapag-Lloyd abandonaram a rota pelo Mar Vermelho e optaram por contornar o continente africano. O bloqueio provocou o desvio de mercadorias no valor de 200 mil milhões de dólares e teve, ainda, impacto nos custos de seguro para navios comerciais. No caso dos navios israelitas, os seguros tiveram um aumento de 250 por cento e outros não conseguiram sequer obter seguro.

No dia 12 de janeiro, aviões americanos e britânicos começaram a bombardear posições militares de combatentes Houthi no Iémen, marcando uma escalada da guerra na região. Com esta ofensiva contra o território iemenita, as duas potências têm como suposto objectivo querer impedir os ataques Houthi contra navios mercantes. Como seria de esperar, o ataque a navios não cessou e a tensão militar na região aumentou. O Irão chegou mesmo a enviar um barco de guerra para o mar Vermelho, o qual foi posteriormente retirado. 

Um dos eventuais resultados de uma escalada do conflito no mar Vermelho é, sem dúvida, a subida do preço do petróleo. Caso o Irão entre ativamente no conflito e decida fechar o Estreito de Ormuz, ou seja, o acesso ao Golfo Pérsico, as consequências serão catastróficas – 40 por cento do Petróleo mundial passa pelo Estreito de Ormuz e pelo mar Vermelho. 

Os Estados Unidos, enquanto país exportador de petróleo, sairia beneficiado deste eventual bloqueio. O mesmo não se pode dizer da Europa, que, à semelhança com o que aconteceu no conflito da Rússia-Ucrânia, iria sair fortemente prejudicada e a braços com uma subida fulminante da inflação. 

O porquê da solidariedade dos Houthis com a Palestina

Iémen foi palco, durante quase uma década, de uma intervenção militar genocida liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, apoiada pelos países ocidentais – com maior destaque para os Estados Unidos da América. Esta intervenção provocou uma das maiores crises humanitárias do mundo. 

O movimento Ansar Allah, mais conhecido como Houthis, é a força que controla o governo, a capital e as regiões mais populosas do Iémen. Tendo o apoio do Irão, estão longe de ser um “governo fantoche”. Têm uma identidade própria, defendem uma visão pan-islâmica e panarabe da sociedade. 

Em 2015, os Houthis e outros movimentos políticos tomaram a capital do Iémen. Insatisfeitos com o desenvolvimento da guerra e com o facto do Irão estar a ganhar uma suposta influência naquele país, uma coligação de 9 países liderada pela Arábia Saudita decide intervir militarmente.

A guerra durou cerca de 9 anos. A Arabia Saudita, com o apoio dos Estados Unidos e dos seus aliados ocidentais, bombardeou indiscriminadamente a população civil, escolas e hospitais. Segundo dados da ONU, cerca de 400 mil pessoas perderam a vida neste conflito, com perto de 259 mil crianças menores de cinco anos a morrerem em consequência da violência, da fome e de doenças.

Neste sentido, a solidariedade demonstrada pelos Houthis e a população civil do Iémen para com a Palestina resulta do facto de terem vivenciado uma experiência semelhante nos últimos anos. Bombardeamentos indiscriminados a civis, cerco genocida que impede a chegada de bens essenciais à população, fome e doença – esta é uma realidade vivida pela população Iémenita desde 2015. 

Decisão do TIJ ordena Israel a tomar medidas 

No passado dia 26 de Janeiro, numa decisão sem precedentes, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ordenou a Israel que tome todas as medidas para impedir a prática de actos genocidas, bem como garanta a entrada de assistência humanitária em Gaza. 

Embora não tenha havido uma ordem de cessar-fogo, como pretendia a queixa apresentada pela África do Sul, esta decisão representa uma derrota importante para Israel e para os seus principais defensores, os Estados Unidos e a Alemanha.

Os governos do ocidente, até agora, parecem ter as coisas claras – bombardear uma população iémenita é melhor solução do que parar com o genocídio perpetrado por Israel em Gaza. Vamos ver se algo muda depois desta decisão histórica por parte do TIJ.

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