Sociedade

Memória

Maria Alda Nogueira, uma vida de luta pelos direitos da mulher, pela liberdade e pela paz

Evoca-se este ano o 100º aniversário de Maria Alda Nogueira, resistente anti-fascista, que lutou incansavelmente contra a ditadura, contra a exploração, pela emancipação da mulher, e pela paz.

Alda Nogueira, bem cedo, começa a perceber, como a vida das mulheres era muito dura, e que a guerra prendia torturava e matava quem se batia pela liberdade e progresso da Humanidade.

Licenciada em Ciências Físico-Químicas, exerceu a docência nessa área, entre 1945/47, em Olhão, e na Escolas Alfredo da Silva, no Barreiro, e na Voz do Operário.

A luta pela Paz uma causa das mulheres

Ainda aluna na Faculdade ingressa na Associação Feminina Portuguesa para a Paz (AFPP), e foi aqui, no trabalho, com muitas outras mulheres anti-fascistas, que começou a interessar-se e a ganhar consciência que era necessário abraçar a luta das mulheres.

Este abraço com a luta das mulheres vai ser mantido até ao fim da sua vida, tornando-se ainda mais forte, ao integrar o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas- CNMP, a partir de 1945. Junta então o seu valioso contributo ao de outras mulheres, entre as quais Maria Lamas, para que este Conselho se alargue e crie uma organização sólida, com vista à dignificação e emancipação da mulher e protecção da criança.

O CNMP denuncia cada vez mais a falta de protecção social e na saúde da mulher, e da criança, o analfabetismo, e começa a pôr em causa o regime. Este Conselho realiza a “Exposição de Livros Escritos por Mulheres”, em Janeiro de 1947, que tem repercussão na imprensa e no mundo. Numa das palestras realizadas sobre A ciência e a mulher, é oradora Alda Nogueira. 

Nessa altura, a repressão aumenta sobre uma oposição cada vez mais forte, e o CNMP é encerrado pelo governo, em Junho de 1947.

A luta pela liberdade, contra a ditadura

Alda Nogueira, membro do PCP desde 1942, é forçada pelo regime a passar à clandestinidade em 1949, tendo sido a primeira mulher condenada, em 1960, a 8 anos de prisão, por motivos políticos, mas passa nove anos e dois meses nos cárceres fascistas. 

Alda Nogueira foi uma, entre outras mulheres que se destacaram na luta antifascista, e que contribuíram para a queda da ditadura, para a conquista da liberdade e pelo fim da guerra colonial. 

No dia 25 de Abril, o Povo vem para a rua e inicia-se a revolução 

As mulheres agarraram nas suas mãos a conquista dos seus direitos. 

A luta pela consagração para todos de direitos políticos, económicos, sociais e culturais

Maria Alda foi uma das mulheres deputadas, pelo PCP, à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, entre 1976/1986. Teve sempre um papel destacado na defesa, em toda a sua amplitude dos direitos da mulher na lei e na vida: direitos políticos, económicos, sociais, e culturais. Foi Presidente da Comissão Parlamentar da Condição Feminina de 1983 a 1985, Comissão que teve um papel relevante no reconhecimento público das associações de mulheres, e na denúncia da persistência das discriminações das mulheres no acesso ao trabalho e enquanto trabalhadoras, na maternidade e paternidade, entre outros. 

Alda Nogueira foi uma antifascista intransigente para com a ditadura, intransigente para com a exploração das/dos trabalhadores, para com a pobreza, e o analfabetismo, para com a exclusão de direitos das mulheres.

Foi uma dinamizadora, activista e dirigente entusiasta do Movimento Democrático de Mulheres

Foi condecorada com a Medalha de Honra do MDM no ano de 1987 e em 1988 é agraciada com o grau de grande-oficial da Ordem da Liberdade.

Consagrada como mulher de Abril, Maria Alda passou a figurar também na toponímia de várias localidades do nosso país, e o seu busto em pedra, encontra-se no claustro da Assembleia da República.

Esta grande lutadora, ferozmente castigada pelo fascismo, conseguiu suplantar obstáculos, e resistiu, resistiu sempre alimentada pelos seus fortes ideais, pelas profundas e duradouras amizades e pela solidariedade.

Artigos Relacionados