Trabalho

Salários

Paz social não está garantida com aumentos de 0.9%

Muito abaixo da taxa de inflação de 7,2% registada em abril, a atualização salarial orçamentada pelo Governo deixa os trabalhadores à mercê do aumento desenfreado dos preços.

Jornada de luta contou com taxa de adesão a rondar os 90%.

“Absolutamente insuficiente” face ao aumento abrupto do custo de vida, a atualização salarial de 0,9% proposta pelo governo para todos os trabalhadores da Administração Pública deu o mote à greve que fechou escolas e colocou serviços públicos e hospitais em serviços mínimos em todo o país, no passado dia 20 de maio. Com uma adesão de cerca de 90%, a paralisação nacional convocada pela Frente Comum teve expressão nas ruas de Lisboa com milhares a exigir um aumento “urgente” de 90 euros para compensar a perda de poder de compra. “Empobrecer a trabalhar, não” foi uma das palavras de ordem mais repetidas pelos trabalhadores de todos os sectores do Estado que engrossaram o protesto que se fez ouvir do Marquês de Pombal à Assembleia da República. “Estes 0,9 no meu salário? São 16 euros. 16 euros já nem chegam a metade de uma botija de gás”, indigna-se Alexandra. Com 29 anos de carreira, a professora teve a progressão na carreira congelada nos últimos dez e recorre a um verso dos Xutos & Pontapés para resumir a condição dos demais trabalhadores do Estado: “Isto de facto, a nossa vida é sempre a perder. Carreira, salários, condições de trabalho e não há direito”.

Três pontos percentuais abaixo da taxa de inflação de 1,2% registada em 2021, a atualização salarial que o governo incluiu no Orçamento do Estado deste ano fica ainda mais distante quer da previsão de 4% feita pelo próprio executivo, quer da inflação de 6% prevista pelo FMI, quer ainda dos 7,2% registados no passado mês de abril. “Não vai ser possível garantir paz social com esta imposição do governo. Os trabalhadores da Administração Pública não estão dispostos a empobrecer a trabalhar”, reiterou o líder da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública comprometendo-se com o endurecimento da luta contra o desinvestimento em todos os setores do Estado.

Contra as políticas de estagnação salarial dos trabalhadores do Estado, a revogação do chamado Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública (SIADAP) também foi bandeira da ação de protesto que, em alternativa, propõe a sua substituição por um sistema de avaliação sem quotas. Isto, a par de um sistema de avaliação “formativo, transparente, equitativo e justo” e de uma correção da tabela remuneratória única respeitando a lei, valorizando os salários e garantindo a proporcionalidade entre os escalões.

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