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China e a paz no médio oriente

A forma enjoada como o Secretário de Estado, Tony Blinken, reagiu à notícia de que Irão e Arábia Saudita haviam restaurado relações diplomáticas, diz-nos tudo sobre a sua importância e o sucesso desta operação diplomática encetada pela China.

Há há algum tempo que observadores próximos do médio oriente se questionavam sobre possíveis efeitos resultantes do papel que a chinesa BRI (Belt and Road Initiative – Novas Rotas da Seda), a Organização de Cooperação de Xangai e os BRICS (agora BRICS+) poderiam ter na aproximação das duas partes. Afinal, o Irão assume um protagonismo fundamental no corredor internacional norte sul que compõe um dos principais módulos das Novas Rotas da Seda. Por outro lado, a China tornou-se no maior comprador de petróleo saudita. Acresce que Irão e Arábia Saudita são ambos candidatos à entrada na organização BRICS+, que reúne Brasil, Rússia, India, China e África do Sul, passando a acoplar o sinal “+”, como forma de designar a abertura a novos membros, entre eles os dois maiores potentados do Médio Oriente. Se o Irão já é membro da Organização de Cooperação de Xangai, o que colocou um ponto final ao seu isolamento internacional perpetrado pelo ocidente, a Arábia Saudita também pretende aderir a esta organização.

O facto é que, este sucesso da diplomacia chinesa, que ameaça fazer ruir os pilares fundamentais da política imperialista dos EUA para o médio oriente, é também ele resultado directo de duas contradições impostas, à China, pelos EUA e estados vassalos. A primeira contradição consiste na necessidade que a China tem de criar ligações internacionais duradouras entre o seu território e os restantes países da Eurásia, contornando a ameaça de cerco marítimo, com que acenam os EUA, desde há algum tempo. A forma encontrada residiu na construção de um conjunto de corredores terrestres, articulados entre ferrovia, portos e estradas, que, mesmo em situação de bloqueio, garantam o acesso da China aos mercados internacionais e vice-versa. Adicionalmente, acenando a China com investimentos avultados em infra-estruturas logísticas que constituem autênticas catapultas de desenvolvimento, os projectos de investimento, que propõe, acabam por responder às necessidades de estados como o Irão. Para a Arábia Saudita, enquanto país investidor, ávido por entrar no mercado Chinês e aceder aos avultados “negócios da China”, esta relação também lhe interessa especialmente.

Desta forma, foi o próprio imperialismo quem acabou por fazer ruir todo o processo de divisão para reinar, que havia encetado juntamente com a entidade sionista Israelita. Se a China foi forçada a encontrar uma alternativa de desenvolvimento que ultrapassasse as barreiras impostas pelo imperialismo, fê-lo propondo negócios baseados no princípio de ganhos mútuos e não ingerência na política interna de cada um dos países parceiros. O que contrasta frontalmente com a alternativa Estado Unidense, baseada na ingerência, no bullying e na ameaça, quando não na invasão ou no assassinato de governantes. A actual onda de sanções e confisco de reservas a países como a Rússia, também terão contribuído para precipitar esta reorientação da política externa saudita em direcção a oriente.

E estes princípios de mútua conveniência estão espelhados pelo acordo Iraniano-Saudita. Primeiro, as duas nações comprometem-se a “não interferir” nos assuntos internos mútuos, depois, informam que retomam o acordo de cooperação e segurança assinado em 2001, trabalhando no sentido da “paz e segurança regional e internacional”.

Se existe alguém a quem este acordo não serve é a Israel, entidade usada por Washington para, também por via diplomática, assediar a Arábia Saudita, antagonizando a sua relação como Irão, o que resultou, entre outros conflitos, na guerra a que assistimos – ainda – no Iémen. Contudo, tal como no Iémen – cujo cessar fogo de dois meses e negociações de paz foram instaurados -, as ramificações desde reencontro prometem ir mais além. Por exemplo, nas consequências positivas que assumirá para a Síria, cujas relações diplomáticas com Emirados Árabes Unidos foram restabelecidas com a recente visita do presidente Assad. Entretanto, a Arábia Saudita acordou com Damasco a reabertura das respectivas embaixadas, já se sabendo que Riade também prevê convidar a Síria para estar presente na reunião da cúpula da Liga Árabe.

As relações com o Egipto estão também a progredir, prevendo-se o reatamento pleno de relações diplomáticas, estando também no programa o encontro entre os presidentes dos dois países, a seguir ao ramadão.

É importante realçar também que Moscovo, mesmo estando concentrado no conflito do Donbass, foi pioneira na aproximação das cúpulas do poder Sírio, Turco e Russo, para discutir um projecto para a Síria.

Para a entidade sionista Israelita, o caminho do Médio Oriente para a Paz, que resulta de uma enorme vitória diplomática Chinesa, tudo isto significa um isolamento que já começou a fazer-se sentir.

A grande questão a que sobra responder consiste em saber quais serão os efeitos materiais deste reencontro na questão do povo Palestiniano. Contudo, uma coisa é certa, estes desenvolvimentos não deixarão de se fazer reflectir, também neste caso. Esperemos que mais cedo que tarde. O sofrimento do povo Palestiniano às mãos do apartheid sionista constitui, ainda, um dos mais sólidos símbolos da opressão imperialista no médio oriente.

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