A Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES), em cerimónia solene, atribuía os Prémios Cooperação e Solidariedade, mas havia um ponto de ordem, antes da solenidade.
Depois de um almoço servido no salão d’A Voz do Operário, Fernando Tordo lembraria, cantando e falando, essa dupla saudosa Tordo/Ary, através da “Balada para os Nosso Filhos”, da “Estrela da Tarde” e da “Tourada”, acompanhada em coro pela plateia. E, enquanto a utopia, cantada nas palavras de Ary dos Santos que ali voltava a subir ao palco, o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, em substituição da Ministra do Trabalho, juntar-se-ia à sessão pré-solene, como sublinharia de forma enfatizada Fernando Tordo, com a informalidade devida.
Mas era então a altura da cerimónia solene que abriu com a atribuição dos prémios. Surgiria então a homenagem, com a entrega do prémio em honra à “carreira” do dirigente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, Augusto Máximo Flôr, presidente da direção de 2007 a 2022, mas no movimento associativo desde 2002. Na entrega da distinção, recebida das mãos de Eduardo Graça, presidente da CASES, o homenageado resumiu a sua intervenção em três palavras: “Oportunidade, agradecimento e compromisso”, partilhando assim o seu prémio com “as centenas de pessoas” dedicadas à causa do associativismo, de norte a sul do país, com quem conviveu ao longo de 53 anos de vida associativa e que, como referiria, se distinguiam pelo “sentido de responsabilidade social, sensibilidade humana, dedicação à causa associativa e determinação”. E nestes destacou Jorge Sá e Rogério Cação da Confederação Portuguesa da Economia Social.
Num curto discurso, Augusto Flôr valorizou a importância do trabalho coletivo, agradecendo o prémio, como um reconhecimento “que vai muito além” dele próprio e, por isso, decidiu entregá-lo à Mesa do Congresso da Confederação Portuguesa das Coletividades.
Augusto Flôr agradeceu também o apoio que tem recebido dos seus pares: um reconhecimento que reflete “o companheirismo e a camaradagem” que carateriza as relações entre as pessoas que dão corpo a este movimento associativo.
O antropólogo, que durante 14 anos dirigiu a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, assumiu o compromisso de tudo fazer para que “continue a ser reforçada luta por um modelo social em que o modo de produção seja mais social e a distribuição da riqueza produzida seja mais equilibrada”.
No momento da homenagem, Augusto Flôr falou da tal sociedade, não como de uma utopia, de um não-lugar, mas de um percurso que se vai construindo, de forma convergente, assumindo compromissos muito concretos. E não deixou de apresentar um caderno de encargos para os que o que ficam, como, por exemplo, obrigar os governos a cumprir “com a Lei de Bases da Economia Social, a aprovar o Estatuto Fiscal da Economia Social” e comprometer os deputados da Assembleia da República com a importante aprovação “das alterações legislativas proposta pela Confederação Portuguesa das Coletividades”.
Em dia de homenagem, Augusto Flôr vincava o compromisso de prosseguir com a causa do movimento associativo.
À saída do salão, aposto na parede por cima da porta pode ler-se a frase: “Trabalhadores Uni-vos!” Uma utopia que, há 144 anos, Custódio Gomes, operário tabaqueiro, começou a desconstruir.