O presente que o Governo vai transferindo para as autarquias, apesar de rotulado de descentralização é, como o própria Associação Nacional de Municípios conclui, um conjunto de encargos com custos elevadíssimos sem a correspondente transferência de meios, quer humanos quer financeiros, alijando, o Estado Central, responsabilidades nas autarquias. Esta situação traduz-se na reprodução das assimetrias de que o país padece, pelo que bem se pode dizer tratar-se de um presente envenenado.
Assimetrias que tão bem o Nobel da Literatura, que faria este mês de novembro 100 anos, descrevia nas suas obras, como por exemplo Levantados do Chão. A Fundação José Saramago, através do seu diretor, Sérgio Letria, conta-nos alguns dos traços da personalidade que a sua obra testemunha, sobretudo essa sua grande capacidade de ler a realidade que o rodeava, e de como ao escritor, ao homem, cada vez mais sucede o filósofo. Uma realidade que hoje nos volta a fustigar com mais uma crise. E que, como bem retrata Rita Governo, chega a ser burlesca a panaceia, leia-se PRR, que o poder acena de cada vez que a realidade o surpreende. Surpreendentemente, ou talvez não, para o Ministério da Educação, as competências pedagógicas parecem ter pouca relevância no processo de ensinar, como se o conhecimento se transmitisse por osmose: eis a imprudência de um Ministro. Aliás a imprudência parece endémica no governo, a julgar pelo Orçamento para 2023.