E Nada seria possível sem o esforço daqueles que durante boa parte do ano se dedicam, através do associativismo, à preparação das festas. Centenas de coletividades que juntam as mais diversas expressões desportivas, culturais e recreativas em diversos bairros da cidades são os pulmões da alegria que transborda neste mês. A pandemia do novo coronavírus não só suspendeu a agitação que percorria as ruas de Lisboa e de outros concelhos da Área Metropolitana como afetou a atividade de muitas associações. Este é novamente um momento para congregar à sua volta inúmeras expressões dentro do contexto das festas. Para muitas coletividades, este é também um importante momento de receitas para investir nos muitos projetos que desenvolvem anualmente junto das populações.
As festas de Lisboa ao longo da história
As festas em Lisboa realizavam-se tradicionalmente duas vezes por ano: a 15 de fevereiro, dia da trasladação do corpo de Santo António para a catedral de Pádua, e a 13 de junho, data da sua morte. Às cerimónias religiosas, como as missas e a procissão, juntavam-se as festas oficiais da autarquia no Terreiro do Paço e mais tarde no Rossio, que terminavam com fogo-de-artifício.
Simultaneamente, um pouco por toda a cidade, decorriam as festas populares nos bairros, relacionadas com os ancestrais festejos do solstício de verão, os arraiais e descantes e ainda os tronos em homenagem a Santo António.
Por toda a parte, em todas as casas, via-se a imagem do Santo, no seu altar, ornada de flores e de longos pavios. Estes tronos constituem uma das manifestações mais singulares do culto antoniano que, mais tarde, foram também apropriados pelas crianças que passam a competir entre si na sua feitura.
Entre as comemorações religiosas e pagãs, durante o dia, à noite e pela madrugada de 12 para 13 de Junho, a multidão deslocava-se pelas ruas da cidade erguendo archotes e lampiões para iluminar o caminho. Estes desfiles espontâneos de pessoas transportando balões iluminados em canas estão na origem das Marchas Populares que a partir de 1932, durante o fascismo, se tranformariam num concurso organizado, encenado e temático.
Em homenagem ao dom de casamenteiro do Santo, cria-se, na década de 50, o concurso das Noivas de Santo António, que permitiu, ao longo dos anos, celebrar inúmeros casamentos a casais de poucos recursos económicos.
O regime fascista tentou através das Marchas Populares controlar desde o princípio a componente popular das festas de Lisboa mas as coletividades acabaram por fazer sempre parte desta história. As marchas foram adquirindo um enorme prestígio ao longo dos anos com grande entusiasmo popular. Em 1952, a novidade é a deslocação do desfile para o percurso que conhecemos, do Marquês de Pombal aos Restauradores.
Depois de mais um período instável, a partir de 1963, e até 1970, o desfile ocorreu sem interrupções, sendo nesse ano que a televisão se torna um espectador assíduo, primeiro a preto-e-branco e mais tarde, com cor, revelando toda a essência e esplendor das Marchas.
Na década de 60 começam as exibições em recinto fechado, no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo VII. Nessa altura registou-se um dos percursos mais longos – do Parque ao Terreiro do Paço, com passagem pelas Avenidas Sidónio Pais e Fontes Pereira de Melo. Em 65, aparecem os carros alegóricos e, em 69, as mascotes – crianças que acompanham a marcha vestidas a rigor. Nas últimas décadas, as marchas como espelho do movimento associativo e popular ganharam expressão noutros concelhos.