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Escolas

Uma experiência para a vida, n’A Voz do Operário

As Escolas da Voz do Operário são de facto lugares especiais e singulares no panorama da educação no nosso país. Resisto à tentação de os situar acima ou abaixo de outros, porque o que melhor caracteriza a forma de ensinar e aprender nas escolas da Voz é a diferença face a esse padrão de categorização e classificação a que estamos habituados num mundo em que tudo parece competir.

Sou pai de uma ex-aluna e de um finalista do primeiro ciclo da Voz do Operário. Esta circunstância permitiu passar a última década a contactar quotidianamente com a Voz, com os profissionais dos seus espaços educativos, com outros alunos e respectivos pais e encarregados de educação. E confesso que quando pela primeira vez entrei no Espaço Educativo da Ajuda não podia ainda compreender e avaliar o papel transformador que a escola passaria a desempenhar nas nossas vidas.

No Espaço Educativo da Ajuda encontrei uma escola de “porta aberta”, que em vez de tolerar a presença dos pais antes a incentiva. Encontrei um espaço em que a participação de todos é valorizada, incentivada e acarinhada, porque é através dela que a escola encontra as respostas mais adequadas aos seus desafios quotidianos. Encontrei ainda um conjunto de pessoas marcantes, inteligentes, sensíveis e com um enorme sentido de responsabilidade, conhecedoras do papel que desempenham numa fase fundamental da formação pessoal, social e académica das crianças com as quais trabalham.

Sempre me pareceu que entre as muitas carências da chamada “escola tradicional” – aquela do toque de entrada e do toque de saída, dos alunos sentados em plateia e em silêncio, do método predominantemente expositivo, dos conteúdos impostos pelo manual ou pelo professor, do silêncio, das faltas disciplinares e das aulas vocacionadas para a preparação de testes e obtenção de classificações ou “notas” – a democracia é mesmo a mais evidente. Pois bem, no Espaço Educativo da Ajuda encontrei um exemplo de boas práticas diárias de responsabilização e incentivo à construção de uma democracia interna em que todos participam e da qual todos cuidam.

O resultado, pelo menos no caso dos meus filhos, é uma autonomia evidente, uma capacidade reforçada de ler e interpretar as coisas do mundo, uma vontade espontânea de participar na vida colectiva, um sentido de justiça democrático – muito para lá do espírito “justiceiro” da época – e um genuíno desejo de igualdade.

De resto, no caso da minha filha mais velha, que se encontra no 10º ano, o receio de uma transição complicada para a escola estruturada de forma tradicional não se veio a revelar justificado. As ferramentas que trouxe da Voz só ajudaram, não funcionaram em seu desfavor nem perturbaram o seu percurso social ou escolar. E isto apesar de algum preconceito que encontrei logo na primeira escola após a Voz do Operário…

O que vejo em casa e o que observo junto dos antigos alunos da Voz com quem contacto de forma muito regular são traços fundamentais de uma boa formação humana: autonomia e solidariedade, capacidade de concretizar projectos e de ajudar outros, boa preparação académica e excelente capacidade de integração nos grupos dentro e fora da escola (no desporto, por exemplo).

Como pai de um actual aluno e de uma ex-aluna, agradeço à Voz esta experiência que todos levamos para a vida. Não a trocava por outra.

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