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Não estamos todos no mesmo barco

Ao contrário do que se pretende fazer crer, não estamos todos no mesmo barco. Os nefastos efeitos económicos e sociais da pandemia Covid-19 abatem-se sobretudo sobre os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da população.

Foram agora publicados os dados estatísticos relativos ao 2º trimestre de 2020, os quais espelham esses efeitos catastróficos, não compensados pelas insuficientes e limitadas medidas tomadas pelo Governo. São disso exemplo os dados referentes à brutal quebra de 16,5% no PIB, bem como os relativos ao desemprego, recentemente divulgados.

É o próprio INE que assinala que que esta grande quebra da atividade económica é em larga medida explicada pelo contributo negativo da procura interna, dando razão a quem sempre denunciou o erro que consiste na adoção de medidas com efeito direto na redução do rendimento das pessoas e o insuficiente combate aos despedimentos, que conjugados tiveram um impacto bem negativo no poder de compra das famílias, bem como as insuficientes medidas de apoio aos trabalhadores independentes e às micro, pequenas e médias empresas que se viram sem vendas e receitas, pela drástica redução ou encerramento da sua atividade, sem que, por outro lado, se tenha verificado uma efetiva dinamização e aceleração do investimento público.

Para se ter uma ideia do efeito muito negativo no emprego, refira-se que no 2º trimestre o emprego total diminuiu em cerca de 135 mil postos de trabalho em relação ao trimestre anterior (-2,8%), sendo essa redução de 186 mil, quando comparada com o trimestre homólogo de 2019 (-3,8%).

Estes efeitos refletem a ausência de medidas que impedissem os despedimentos, expediente usado pelo patronato para se livrar de milhares de trabalhadores, na grande maioria em situação de precariedade. É em momentos como este que vê quão justa foi a luta contra as sucessivas revisões das leis laborais, sempre feita em detrimento dos direitos dos trabalhadores, com especial ênfase para a imposição da caducidade da contratação coletiva bem como pela não obrigação de que a um posto de trabalho permanente deve corresponder um contrato de trabalho efetivo.

O caminho da recuperação económica e do desenvolvimento do país não está no ataque aos direitos dos trabalhadores, na precariedade, nos baixos rendimentos, no desemprego e na pobreza, nem tão pouco está na submissão às imposições da União Europeia, como atualmente se verifica a pretexto da atribuição de um novo montante de fundos comunitários, imposições essas (ou reformas, como lhes chamam), em que pretendem reduzir o papel do Serviço Nacional de Saúde (em prol da saúde/negócio dos privados), desinvestir na Segurança Social, retirando-lhe o caráter público e universal, ou ainda agravando o pacote laboral no sentido do incremento da já de si muito elevada precariedade laboral.

Estão à vista de todos os efeitos tremendamente nefastos da subordinação aos grandes interesses económicos, a quem a política de direita entregou de forma descarada alavancas fundamentais da nossa economia, com as desastrosas consequências conhecidas, como no caso das parcerias publico privadas em que enquanto os lucros são apropriados pelo grande capital, os prejuízos são suportados por todos nós, isto para não falar do grande escândalo do Novo Banco, em que os muitos milhares de milhões de euros que foram saqueados (era bom que para além da determinação das falcatruas que ocorreram, também se investigasse onde todo esse dinheiro foi parar).

Tão graves quanto a desastrosa solução de privatizar o Banco e pôr os portugueses a suportar os seus prejuízos, são as notícias que agora têm vindo a lume de venda de património ao desbarato, mais uma vez em benefício do grande capital (escondido atrás de contas offshore) de novo à nossa custa.

O caminho de recuperação da nossa economia exige uma política de desenvolvimento soberano do País, indissociável de opções e medidas que desde logo, aposte no aumento do rendimento dos trabalhadores e reformados, assuma o investimento público e controlo dos sectores básicos e estratégicos e promova a produção nacional, defenda os serviços públicos, promova justiça fiscal, combata a corrupção e defenda a Constituição da República Portuguesa.

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