Com os números da pandemia a aliviarem em Portugal, são os dados económicos que assustam. As medidas insuficientes do governo não conseguem suster a quebra na maioria dos setores e o aumento do desemprego. No nosso país, a maioria do tecido empresarial corresponde a pequenas e médias empresas e, ainda assim, os sucessivos executivos parecem estar destinados a socorrer prontamente os grandes grupos económicos e financeiros deixando de lado quem menos estava preparado para o embate da crise sanitária. Disso é exemplo a ruinosa gestão do Novo Banco que continuamos a pagar ou os apoios do Estado a empresas como a TVI que se dão ao luxo de fazer contratações milionárias.
O facto é que diferentes camadas da população se encontram ao abandono numa pandemia que ameaça ser pior que qualquer uma das crise que tenhamos experimentado. É cada vez mais certo a frase de que estamos todos no mesmo mar agitado mas não estamos todos no mesmo barco. Eles navegam nas suas robustas embarcações de luxo enquanto nós não temos mais do que jangadas de madeira. Se agora nos parece mais seguro ir à praia, beber um café na esplanada ou ver um concerto, também é útil que olhemos para trás e entendamos o acertado que foi a celebração do 1.º de Maio em luta, cumprindo todas as regras de distanciamento, em várias cidades do país.
É importante que sigamos as regras sanitárias mas que nos lembremos de que há cada vez mais verdadeiras situações de desespero e que o protesto pode e deve ser o caminho para expressar o descontentamento e a exigência de mais justiça social. O verão pode mascarar muitas realidades mas não deixemos que o outono se transforme num cinzento destino para todos nós. Sob o individualismo, a apatia e o conformismo, jaz as nossas esperanças roubadas de um futuro melhor. Saibamos recuperar a solidariedade e a consciência social porque a resistência é o caminho.