O nazi-fascismo provocou, durante a 2.ª Guerra Mundial, mais mortes que nenhuma outra. Só a União Soviética perdeu 26,6 milhões de mulheres e homens, um quarto de todos os que pereceram durante o conflito. Nos campos de concentração e de extermínio, entre judeus, comunistas, homossexuais, ciganos e pessoas com deficiência, terão sido assassinados entre 6 e 11 milhões de seres humanos, num processo de extermínio que ficou conhecido como Holocausto.
As ideias de nacionalismo, racismo, xenofobia e anti-comunismo tinham sido abraçadas anos antes por vários partidos e movimentos que em diferentes países como a Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Hungria, Áustria, Polónia, Roménia e Bulgária aproveitaram a grande depressão económica para militarizar as sociedades, liquidar liberdades e direitos democráticos e encetar processos de expansão territorial, quando os trabalhadores e os povos empreendiam lutas por progresso e justiça social. “Um fascista não é mais do que um burguês assustado”, escreveu um dia o poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Não teria sido possível, sem o envolvimento dos grandes grupos económicos e financeiros, o crescimento político do fenómeno do nazi-fascismo na Europa. Apesar das denúncias do representante soviético na Sociedade das Nações, sobre o perigo da guerra e a necessidade de a evitar, a sangrenta guerra civil espanhola, depois do golpe fascista contra o legítimo governo republicano, abriu caminho à barbárie. Em 1938, França e a Grã-Bretanha acordaram com a Alemanha nazi a partição da Checoslováquia, com o Pacto de Munique. Menos conhecida é a ocupação, em outubro de 1938, de várias regiões do norte desse país por parte da Polónia que foi, então, acusada de cumplicidade com os nazis.
Num contexto em que a diplomacia soviética parecia incapaz de convencer Londres e Paris a estabelecer um acordo que impedisse o avanço do nazi-fascismo na Europa, rumo ao leste do continente, a União Soviética decidiu ganhar tempo para preparar a sua defesa, estabelecendo um acordo de não-agressão com Berlim. A passividade das potências ocidentais acabou por permitir a invasão por parte da Alemanha da Polónia, da Dinamarca, da Noruega, da Holanda, da Bélgica e do Luxemburgo. A França seria ocupada poucas semanas depois. Até à invasão da União Soviética, em 1941, todo o esforço da Alemanha estava a ser preparado para o objetivo de derrotar o país que construía, desde 1917, um modelo antagónico ao nazismo. Outras potências como Itália e o Japão, entre outros aliados do que ficou conhecido como o Eixo, ocuparam vastos territórios nos balcãs, em África e na Ásia.
A entrada da União Soviética virou o jogo
A invasão da União Soviética na madrugada de 22 de junho de 1941, com a entrada das tropas alemãs na República Socialista da Bielorrússia, marcaram uma nova fase da 2.ª Guerra Mundial. “Esta guerra com a Alemanha fascista não pode ser considerada uma guerra comum. Não só é uma guerra entre dois exércitos mas também uma grande guerra do povo soviético contra as forças do fascismo alemão. O objetivo desta guerra nacional do nosso país contra os opressores fascistas é não só eliminar o perigo que pende sobre o nosso país mas também ajudar todos os povos europeus que sofrem sob o jugo do fascismo alemão”, anunciou Iosif Stalin, presidente soviético.
No final desse mesmo ano, a Alemanha sofre a primeira grande derrota às portas de Moscovo. Entre o verão de 1942 e fevereiro de 1943, tem lugar, em Stalinegrado, a maior batalha da história, que acaba com a rendição alemã e a libertação do território soviético com a batalha de Kursk, o fim do cerco a Leninegrado e marcha empreendida pelos soldados do Exército Vermelho rumo a Berlim, libertando povos pelo caminho.
Quando os aliados ocidentais desembarcam na Normandia para atacar os nazis a partir do Ocidente, combatiam na Frente Oriental 92% de todas as tropas terrestres alemãs. A entrada dos Estados Unidos no cenário europeu dá-se já quando o exército nazi recuava face à ofensiva soviética e depois de terem sido travadas, nesse momento, todas as grandes batalhas que determinariam o desfecho da guerra.
Segundo o jornalista francês Paul -Marie de La Gorce, só o Exército Vermelho conseguiu liquidar dois terços das forças alemãs até chegar a Berlim. Se parece evidente, para quem segue os factos históricos, que a União Soviética foi o país que mais contribuiu para a derrota da Alemanha, isso não parece tão óbvio na atualidade. De acordo com várias sondagens realizadas pelo Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP) ao longo de várias décadas, a percepção dos franceses sobre este período da história mudou significativamente desde 1945. Nesse ano, 57% dos inquiridos responderam que quem gastara mais esforço tinha sido a União Soviética, 20% referiram os Estados Unidos e 12% do Reino Unido. Quase 50 anos depois, em 1994, apenas 25% indicava a União Soviética e o número de inquiridos a responder Estados Unidos passou para 49%. Em 2004, a União Soviética desceu para 20% e os Estados Unidos subiram para os 58%.
Para esta percepção errada dos factos históricos contribui muito a máquina de propaganda norte-americana que conseguiu, através das suas ferramentas culturais, projetar a ideia de ser responsável pela derrota do nazi-fascismo. Se em Hollywood os Estados Unidos podem vencer em todos os cenários, a história revela que foi em 9 de maio de 1945 que a Alemanha aceitou a rendição incondicional, perante a vitória militar do Exército Vermelho. Mas quem sabe não esquece. Vitória, a palavra que mais se gritou nesse dia, escreve-se assim: Победа.
A nova correlação de forças mundial, gerada pelo prestígio do inestimável contributo da União Soviética para esta vitória, deu lugar a enormes avanços progressistas em todo o mundo. Desde logo, a fundação da Organização das Nações Unidas só foi possível com uma carta fundadora que consagrou um conjunto de princípios impensáveis na década em que dominava o fascismo. O fortalecimento do movimento operário e das suas organizações conquistou direitos laborais, sindicais, das mulheres, avanços no acesso ao ensino, saúde e segurança social que, em muitos países, eram até então inexistentes.
Como em muitos outros países, Portugal, que era aliado da Alemanha nazi, e que decretou três dias de luto pela morte de Adolf Hitler, a derrota do nazi-fascismo foi celebrada em plena ditadura nas ruas de Lisboa. A libertação na Jugoslávia, liderada pelos partisans, conduziu o país a transformações socialistas. Em Itália e em França, onde a resistência armada ao fascismo se fazia sobretudo com o compromisso de comunistas e progressistas, o prestígio dos partidos comunistas destes países cresceu no pós-guerra.
Com as bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagazaki, quando o Japão estava praticamente derrotado, os Estados Unidos deram um sinal ao mundo de que tinham uma poderosa arma capaz de derrotar qualquer inimigo. Este crime que provocou, em apenas dois dias, entre 130 mil e 246 mil mortos, antecipou uma escalada pela dominação mundial que ainda hoje prossegue.