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Eleições no Estado Espanhol

Na sequência do mau resultado do PSOE nas eleições municipais e regionais em todo o Estado espanhol, Pedro Sanchez anunciou, no passado dia 29 de Maio, a dissolução do parlamento e a antecipação das eleições legislativas para o próximo domingo, 23 de julho.

O PSOE liderava os governos de 9 das 12 regiões autónomas que tiveram eleições no passado dia 28 de maio e perdeu mais de metade, conservando apenas quatro: Astúrias, Canárias, Castela-La Mancha e Navarra. Sofreu ainda uma pesada derrota a nível municipal, já que perdeu 15 das 22 capitais de província em que até agora governava. 

No entanto, tendo em conta os resultados, podemos concluir que a principal razão que motivou a queda dos governos de esquerda na Comunidade Valenciana, Aragão, La Rioja, Cantábria, Canárias, Estremadura ou Baleares é, em maior ou menor grau, o colapso do Unidas Podemos – que se desmoronou de forma geral em todo o Estado Espanhol.

Tsunami eleitoral da direita e extrema-direita? 

A direita e a extrema direita, ajudadas pelo poder mediático, saem reforçadas destas eleições. O PP obteve mais 1.9 milhões de votos do que nas eleições de 2019 – resultado da absorção dos votos do Ciudadanos, que quase desapareceu, e de uma transmissão de votos do PSOE para o partido de Feijó. 

O PP fica assim com o poder em mais da metade dos municípios mais povoados do Estado Espanhol. Das 52 capitais, os ‘populares’ governaram 32, assim como em outros 12 municípios dos 28 que contam com mais de 100.000 habitantes. 

O partido de Feijó, que detinha o poder em apenas 2 regiões autónomas em 2019, passa a governar pelo menos 4 – sendo que está em negociações em várias regiões com o partido de extrema-direita, o VOX.

Apesar do VOX ter duplicado o número de votos e triplicado o número de vereadores em relação às eleições municipais de 2019, o partido obteve menos de metade dos votos – se compararmos com os resultados das últimas eleições legislativas. Ainda assim, pode dizer-se que o partido de Abascal se consolidou a nível local – o que lhe permite governar 140 municípios com o PP, incluindo cinco capitais de província. 

Pela primeira vez na história da democracia espanhola, a extrema-direita consegue fazer parte de um governo regional – fruto do acordo conseguido com o PP na Comunidade Valenciana. Uma das primeiras medidas deste executivo foi proibir bandeiras LGBT em edifícios públicos e manifestações contra a violência machista. 

O que correu mal para o Unidas Podemos?

Um dos motivos do mau resultado eleitoral do Unidas Podemos (UP) foi, certamente, a desilusão provocada pelo não cumprimento dos pontos mais progressistas do pacto de governo entre o PSOE e UP. 

O bloqueio constante do PSOE para revogar certas leis, aliados a um certo cansaço e falta de vontade política por parte do Unidas Podemos, podem explicar de certa maneira, o incumprimento de algumas propostas.

A promessa de revogação da reforma laboral do PP, ainda que tenham sido retiradas algumas medidas prejudiciais para os trabalhadores, fica muito aquém do prometido.

A execução de uma lei de habitação, apesar de ter trazido alguns benefícios, na realidade pouco serve para parar a especulação imobiliária ou controlar a subida das rendas. Segundo os sindicatos de inquilinos, a nova Lei da Habitação contém algumas “imprecisões” que permitem aos senhorios “esquivar-se da regulamentação”.

A chamada lei Mordaça, aprovada pelo PP em 2015, que visa reprimir protestos através de fortes multas e penas de prisão – não foi alterada porque o PSOE se recusou a modificar os pontos mais contestados desta lei.

A aprovação das controversas leis “solo si es si” e “Trans”, por parte do ministério da Igualdade, provocaram uma divisão profunda no movimento feminista. Irene Montero (Podemos), ministra da igualdade, é criticada por não ouvir o sector abolicionista.

Galiza e País Basco: resistência contra o avanço da direita

Apesar do descalabro geral em quase todo o Estado espanhol, a esquerda teve algumas excepções: na Galiza o BNG e no País Basco o EH Bildu.

O EH Bildu obteve um resultado histórico. Foram a segunda força política mais votada em toda a Euskadi, conseguindo eleger um total de 1050 vereadores, mais 120 que em 2019. 

Na Galiza, a esquerda consegue alcançar o poder em 5 das 7 cidades – fruto de um resultado eleitoral bastante positivo do BNG. Os independentistas obtiveram mais 54 mil votos que em 2019, o que se traduz em mais 134 vereadores eleitos – num total de 590.

A aposta, tanto da parte do BNG como do EH Bildu, na apresentação de propostas, na organização da base social ajudam a explicar – em parte – estes resultados positivos para a esquerda. Ou como diz Néstor Rego do BNG: “Quando forças que se dizem de esquerda quebram os seus compromissos e decepcionam o seu eleitorado, desmobilizando assim os seus próprios votantes, quem se aproveita é, justamente, a direita”.

Sumar: a esperança

A coligação Sumar, liderada por Yolanda Díaz – a ministra com melhor avaliação nas sondagens -, apresenta-se como a única esperança para a esquerda obter um resultado positivo nas próximas eleições. O prazo apertado para o registo das coligações fez com que, apesar de divergências profundas – principalmente com o Podemos-, se chegasse a um acordo entre várias formações políticas em tempo recorde. 

A negociação ficou marcada por reuniões à porta fechada, com a militância a ser posta de lado neste debate crucial. Veremos se a aposta da esquerda espanhola, novamente pelo marketing político e pelo “messianismo” das suas figuras, será a mais acertada.

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