A maior parte da educação do dia-a-dia nas escolas dedica-se a transmitir factos e teorias às crianças que as frequentam. O Professor é considerado uma autoridade que, supostamente, deve passar às crianças o saber e conhecimentos que possui. Foi esta a escola que quase todos vivemos enquanto alunos.
No entanto, no Modelo do Movimento da Escola Moderna (MEM) a criança assume-se como ser participante e ativo nos processos de planeamento e avaliação, de forma cooperada e negociada com os professores que partilham, desta maneira, as responsabilidades educativas através do diálogo e de práticas sociais em comunidades de aprendizagem.
Uma das componentes deste Modelo é o Tempo de Estudo Autónomo (TEA). A gestão do trabalho no TEA e a regulação através do Plano Individual de Trabalho (PIT) é uma preocupação diária. Refletimos sobre o planeamento do PIT (O que planear? Quais os compromissos? Como gerir o tempo?); Os apoios e parcerias durante o TEA (O que é ajudar? Quem pode ajudar? O meu apoio promove a dependência ou a autonomia das crianças? Quem apoiar?); A avaliação do PIT (O que é trabalhar bem?); os conteúdos trabalhados/a trabalhar (Como posso verificar se aprendi? Quando posso fazê-lo e como sem ser apenas com uma ficha de avaliação final? Para que serve a minha avaliação?).
Todos os PIT são comentados na quinta-feira para que no dia seguinte as crianças possam lê-los e considerá-los na sua avaliação e planeamento do trabalho da semana seguinte, refletindo sobre as conquistas e dificuldades. Fazemos um balanço coletivo do que foi trabalhado e, de seguida, debatemos o trabalho realizado por cada um em TEA. Refletindo sobre os comentários as crianças tomam consciência de certas dificuldades e iniciam o processo de trabalho para as superar.
Ao longo do TEA reparámos que várias crianças não cumpriam os compromissos definidos. Porém, na sexta-feira quando avaliávamos os PIT em coletivo, o grupo começou a aperceber-se. Discutida a questão em Conselho, combinámos o seguinte:
• Cada um tem que cumprir o que planeia começando com o que acha que é mais importante;
• Sabemos que temos 4 dias de TEA, sendo prioritário o trabalho sobre as dificuldades sentidas;
• Devemos fazer parcerias que não nos distraiam;
• Se quisermos trabalhar com alguém que está ocupado não devemos ficar parados à espera. Continuamos a trabalhar com o nosso PIT.
Apesar da ajuda dos compromissos e da discussão coletiva em Conselho, estabelecendo parcerias e apoios, continuámos a sentir que, com frequência, o trabalho não era produtivo. Ou porque as parcerias e os apoios da professora eram interrompidos ou porque o trabalho ficava bloqueado com alguma dificuldade. Assim, acordámos em Conselho:
• Quando temos uma dúvida:
• Perguntamos a um colega;
• Vamos ver à lista de verificação quem pode ajudar;
• Se precisarmos mesmo da Professora, escrevemos a dúvida na tabela de dúvidas e continuamos a trabalhar;
• Não interrompemos o apoio da Professora, quando ela conseguir vê as dúvidas existentes e ajuda.
Existem ainda todas as semanas propostas de treino dos conteúdos trabalhados, tal como propostas de verificação – utilizadas como “testes” para avaliação. Neste processo, são os alunos que decidem e refletem sobre quando se devem propor à verificação escolhendo o conteúdo a avaliar. Assim, não avaliam os mesmos conteúdos ao mesmo tempo e sempre que realizam uma proposta de verificação, se não tiverem sucesso, voltam a estudar, podendo realizar mais tarde uma nova proposta de verificação sobre o mesmo conteúdo.
Diariamente as crianças responsabilizam-se por colaborar no planeamento, regulação e avaliação de atividades, notando-se um grande interesse em participar, evoluindo a nível pessoal e social. Esta dinâmica não surge do nada, devendo ser trabalhada em conjunto por adultos e crianças e incentivada principalmente pelos professores nas suas práticas, o que implica ter em conta, não só aspetos comunicacionais, mas também organizacionais que promovam uma cultura de cooperação no grupo.
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