Este livro é a súmula de um ciclo de colóquios/debate, com o título O Mundo que Vivi, que a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) organizou com a participação de um grupo de personalidades de diversas áreas sociais, políticas e culturais, homens e mulheres de combate e resistência, que participaram, cada qual a seu modo, na grande festa colectiva que foi esse dia dos prodígios, ajudando a transformar o país, a libertá-lo, a torná-lo mais justo e livre. Personalidades que trouxeram a estas conversas, as suas singulares experiências de vida, de resistência, de trabalho e luta.
A AJHLP pretendeu, com este salutar projecto, fazer um balanço, a partir de memórias individuais, de parte do século XX português, através do testemunho de «onze convidados [que] falaram do seu mundo, de suas lutas, dos seus sonhos, da sua infância – essa foz onde tudo nasce e voltamos sempre à medida que dela nos afastamos», diz-nos Francisco Duarte Mangas na introdução deste 1º. volume.
Num século enfeudado ao desvario tecnológico, que exibe um vertiginoso alheamento da nossa história recente, tempo em que parece existir uma sombria amnésia cívica e cultural, que reflecte a incapacidade de reflectirmos sobre o nosso passado recente utilizando a memória como matéria funcional de debate e alerta, que torne possível a descodificação dos sinais perturbadores que começam a tolher, em sobressalto, os dias avaros que vivemos, livros como este O Mundo Que Vivi, cumprem uma função de extrema importância, dado que trazem para a confusão geral a voz assertiva e lúcida dos que sabem, de experiência feita, que a Liberdade precisa de cuidados, de empenho, de permanente vigília: nada está conquistado para sempre! Seis testemunhos fundamentais percorrem este livro: Arnaldo Trindade que criou, através da etiqueta Orfeu, os discos maiores da nossa música popular: Zeca, Adriano, Fausto, Sérgio Godinho, entre tantos outros; Jorge Sarabando, activista político, homem da escrita e resistente, que viveu o júbilo dos dias de Abril, mas afirma que ainda há muito nevoeiro por aí; José Luís Borges Coelho, músico, professor, resistente antifascista, homem de palavra(s); Júlio Cardoso, actor, director da Seiva Trupe, diz-nos que O Teatro tem cada vez mais futuro; Laura Soutinho, que viveu um tempo de luta e de transgressão; Vítor Ranita que foi defender Angola e regressou anti-colonialista.
Um livro de testemunhos que acertam a memória com as urgências do nosso tempo.