O programa apresentado pelo governo de Luís Montenegro é, por si só, uma declaração de amor aos grandes grupos económicos e financeiros. Acossado pela falta de transparência em relação a negócios pessoais, o atual primeiro-ministro preferiu omitir no seu programa, que agora percebemos ter sido mais eleitoralista do que eleitoral, muitas das propostas que agora avança como eixo central da sua governação. O objetivo era enganar os eleitores para conquistar votos e, agora, com a farsa exposta, podemos dizer que toda a cosmovisão política da coligação governamental transpira ódio a quem trabalha.
A cavalgar a subida exponencial da extrema-direita, Luís Montenegro prefere dedicar-se a apresentar os imigrantes como um problema do que a resolver os problemas do país. Os serviços públicos em Portugal rebentam pelas costuras e os dirigentes da direita esfregam as mãos com a possibilidade de dar mais dinheiro ao setor privado. Pelo caminho, ameaçam os trabalhadores com uma mordaça que condicione o seu direito à greve. À reivindicação do regresso dos 25 dias de férias a que tínhamos direito antes da chegada da troika, o governo sugere que os trabalhadores possam comprar dias de descanso. Para a militarização e a guerra, há dinheiro. Para o que realmente importa, não. De forma despudorada, a viragem eleitoral do país à direita empurra-nos para o abismo que já conhecemos de forma mais evidente durante a troika. Durante décadas, os diferentes partidos no governo deram-nos a ver o trailer da tragédia. E agora só conseguiremos evitar a queda vertical se nos organizarmos como povo. Está nas nossas mãos.