De acordo com o Ministério palestiniano da Saúde, em Gaza, o número exato de mortos desde 7 de outubro de 2023 até 29 de julho de 2025 é de 60.034. Já os feridos atingem 145.870. No entanto, as vítimas podem ser muitos mais, uma vez que a contabilização feita por este ministério inclui apenas as que chegaram aos hospitais e centros médicos de Gaza. O próprio governo, no enclave palestiniano, assegura que há pessoas que ainda estão sob os escombros das suas casas e outros edifícios bombardeados por Israel e cujos corpos não puderam ser resgatados por falta de meios.
Só nas últimas 24 horas, 113 pessoas morreram em Gaza e 637 ficaram feridas, de acordo com dados oficiais, que são reconhecidos como válidos pelas Nações Unidas e outros organismos internacionais, incluindo muitos governos de todo o mundo, mas são refutados pelo governo israelita.
Além dos mortos pelos ataques aéreos e terrestres e pelos disparos das tropas israelitas, o referido ministério começou este mês de julho a contabilizar as pessoas que perderam a vida em Gaza devido à fome: 147 no total, das quais 88 eram crianças, até ao dia 28. O principal sistema internacional que monitora crises alimentares, apoiado pela ONU, alertou na terça-feira que “o pior cenário possível de fome” está em curso na Faixa de Gaza.
Ainda de acordo com o governo de Gaza, 30% dos mortos desde outubro de 2023 eram menores de idade e, desses, 25% tinham entre um e cinco anos. O número de bebés mortos com menos de um ano foi de mil até ao momento.
Cada vez mais acusações de genocídio
As imagens de forças israelitas a assassinar palestinianos esfomeados em busca de comida ou os dados sobre as mortes de criança por inanição deixam a maior parte dos países estarrecidos. São cada vez mais os países e as organizações que acusam Israel de cometer um genocídio na Faixa de Gaza. Pela primeira vez, dois importantes grupos israelitas de direitos humanos acusaram o Estado de Israel de “cometer genocídio contra os palestinianos em Gaza”.
A B’Tselem afirmou num extenso relatório que chegou a esta “conclusão inequívoca” após uma “análise da política israelita em Gaza e das suas terríveis consequências, juntamente com declarações de altos funcionários políticos e militares israelitas sobre os objetivos do ataque”.
Outro grupo israelita, Médicos pelos Direitos Humanos de Israel (PHRI), anunciou que se juntava à B’Tselem para classificar as ações de Israel em Gaza como genocídio. Publicou uma análise jurídica e médica separada que documenta o que denominou de “extermínio deliberado e sistemático do sistema de saúde em Gaza”.
Já o porta-voz do governo de Israel, David Mencer, rejeitou o relatório. “Temos liberdade de expressão neste país, mas rejeitamos veementemente esta acusação”, disse à imprensa, acrescentando que Israel permitiu a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
CPLP: Portugal rejeita denunciar fome em Gaza
Por sua vez, Portugal recusou a inclusão de uma referência explícita à crise humanitária em Gaza na declaração saída da XV Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP. A proposta, apresentada pela sociedade civil no âmbito da reunião do conselho de segurança alimentar e nutricional da CPLP, visava condenar a instrumentalização da fome como arma de guerra, com menção direta à situação das crianças palestinianas. De acordo com fontes citadas pelo Público, Portugal defendeu uma redação mais genérica do texto, que acabou por prevalecer: “Condena a instrumentalização da fome como método de combate em contextos de conflito, e expressa a necessidade de acesso ininterrupto, sustentável, suficiente e irrestrito a bens e serviços essenciais para os civis”. A referência específica a Gaza foi, desta forma, retirada por pressão portuguesa.
Nesse sentido, Vítor Ângelo, antigo secretário-geral adjunto das Nações Unidas, declarou que a atitude de Portugal é “surpreendente” e “preocupante”. “Não se compreende de modo algum que Portugal tenha tomado esta posição. Seria importante que o Governo se explicasse. Aquilo que se passa em Gaza é um assunto de extrema actualidade e gravidade”.
O antigo diplomata justificou a posição portuguesa como reflexo da política europeia de contenção em relação a Israel. “A política europeia tem sido relativamente tímida e pouco crítica em relação a Israel. Penso que Portugal não terá medo de Israel, mas tem certamente medo dos norte-americanos e de desagradar a grandes países europeus, como a Alemanha”.
Também Tiago André Lopes, especialista em relações internacionais, considerou a posição portuguesa “muito difícil de justificar”. “É muito difícil de perceber. Isto não reflete a posição de Portugal, de todo. Esta é apenas a do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A opinião pública portuguesa é muito mais sensível neste tema”, sublinhou.
