O prestígio e o papel d’A Voz do Operário na cidade de Lisboa ficou, uma vez mais, demonstrado na inauguração da nova creche d’A Voz do Operário, Ilha dos Amores, no Parque das Nações. Com a presença de Manuel Figueiredo e Nuno Abreu, respetivamente presidente e diretor-geral da instituição, de Clara Marques Mendes, secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão e de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal, a iniciativa começou com Manuel Figueiredo e Carlos Moedas a descerrar a placa que marca a inauguração do espaço.
Apesar de estar em funcionamento há quase um ano, a inauguração oficial da nova creche d’A Voz do Operário aconteceu agora, a 22 de novembro, de acordo com a disponibilidade do atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Projetado pelo anterior executivo, o atraso nas obras fez com que a abertura do espaço se desse já com Carlos Moedas à frente da cidade.
Na iniciativa, esteve ainda presente o presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações que recordou os problemas na construção do edifício que estava previsto ser inaugurado antes das últimas eleições autárquicas. Para Carlos Hardisson, à frente da mais recente freguesia de Lisboa, este espaço d’A Voz do Operário é vista com “grande satisfação” num território com uma das mais elevadas taxas de natalidade e que não tinha qualquer resposta deste tipo para acolher crianças.
O presidente d’A Voz do Operário evocou a história da instituição e saudou o papel fundamental dos trabalhadores dos diferentes equipamentos educativos. Lembrando a cooperação com o município de Lisboa ao longo dos tempos em diversos âmbitos, onde destacou a Marcha Infantil e a Gala de Fado, sublinhou que A Voz do Operário está disponível para gerir novas creches implementando o seu modelo educativo. Por outro lado, Manuel Figueiredo criticou o governo, na presença de Clara Marques Mendes, denunciando que tanto A Voz do Operário como outras instituições passam por um “sufoco financeiro” devido à falta de ajustamento nas verbas protocoladas nos acordos com a Segurança Social. “Esperemos que isto venha ainda até final do ano a ser retificado”, afirmou, destacando o caso do ensino pré-escolar cujas verbas não são revistas “há cerca de 15 anos”. O que está em causa, considerou, é a viabilidade financeira destas instituições, com os pais a terem de suportar boa parte do aumento de custos.
“Não são as paredes que falam, são as comunidades”
A iniciativa contou ainda com uma breve visita pelas instalações que contou, para além de Manuel Figueiredo e Nuno Abreu, de Bárbara Ramires, diretora pedagógica do espaço, e de Sofia Gonçalves, coordenadora técnica-pedagógica do espaço. A creche Ilha dos Amores conta com 84 crianças dos cinco meses aos três anos, com um berçário e quatro salas heterogéneas, desde o primeiro ao terceiro ano de idade. Sofia Gonçalves foi uma das trabalhadoras que transitou do extinto espaço educativo do Restelo. Trabalhadora d’A Voz há mais de década e meia, considerou que é “enriquecedor” construir do zero. “Porque isto só tinha paredes. Foi bom virem pessoas de várias escolas d’A Voz do Operário, temos todos o mesmo espírito de serviço e a mesma lealdade ao projeto educativo, mas cada uma com a sua experiência de uma comunidade diferente, e isso tem sido a coisa mais enriquecedora”, sublinhou.
Bárbara Ramires garantiu que é um grande desafio trabalhar com famílias “muito diferentes de outras zonas” onde há escolas d’A Voz do Operário. “Eu acho que houve duas coisas importantes: uma é o modo como nós vivemos o nosso dia-a-dia, o modo como nós vivemos o aniversário da nossa escola – de repente temos uma escola que tem meses e estamos a comemorar 141 anos. Isto para os pais foi uma coisa assim um bocado ‘wow, mas onde é que eles estiveram nos outros 140 anos’? Foi-lhes estranho. E depois aquele trabalho que houve das escolas todas fazerem a exposição itinerante, em que mostravam um bocadinho o que era cada uma das escolas, e essa exposição passou também por aqui. Enquanto que noutros sítios era mais ‘ah, que giro’ ao reverem as outras escolas, aqui foi “mas isto é onde? Quanto miúdos é que tem essa escola?’”.
Sofia Gonçalves explicou que muitos pais não sabiam ao que vinham. Ao contrário de outros espaços educativos, estas crianças chegavam porque era a vaga que havia no âmbito do acordo Creche Feliz. “Noutros espaços educativos, as pessoas vão pelo modelo, vão pel’A Voz do Operário, isso aqui não acontecia. Isto depois foi muito a luta do dia-a-dia: irmos mostrando como é que queríamos trabalhar, como é que dávamos voz às crianças, como é que é isto de dar voz, como observamos as necessidades dos grupos e lhes damos espaço para depois espelhar no nosso trabalho pedagógico do dia-a-dia”. Nesse sentido, considerou que “as paredes não precisam de ter muita coisa porque não são as paredes que falam, são as comunidades, são as crianças”.
O compromisso de Sofia Gonçalves com o modelo d’A Voz do Operário é fundamental e diz que não se via a trabalhar noutra instituição. Esta Ilha dos Amores abre um novo capítulo na história d’A Voz do Operário com quase uma centena de crianças a brincar, a aprender e a ensinar numa das partes mais orientais da cidade de Lisboa.