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PSP contacta associações e estabelecimentos com simpatia pela Palestina

Responsáveis associativos e livreiro mostram-se surpreendidos com a ação policial.

O proprietário da livraria Tigre de Papel, em Arroios, não poderia ter ficado mais surpreendido com a visita de dois agentes da PSP ao estabelecimento. Os polícias perguntaram pelo responsável da loja e, de seguida, se tinha alguma ligação ao Médio Oriente. “Fiquei chocado”, descreve Fernando Ramalho. “Foi inusitado”. De acordo com o livreiro, os agentes pareciam estar atrapalhados, sem saberem bem o que estavam a fazer, e revelaram que havia problemas de segurança e que tinham uma lista de locais a visitar. A visita foi rápida mas não ficou por aqui.

No mesmo dia, visitaram a redação do Fumaça, meio alternativo de comunicação social. Perguntaram se podiam entrar e Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista da equipa, respondeu que preferia conversar no exterior. “Perguntaram se tínhamos alguma coisa a ver com o Médio Oriente”, explica. “Respondi que somos um órgãos de comunicação social, somos jornalistas, cobrimos também o Médio Oriente e a Palestina”. Os agentes explicaram que há um alerta de segurança e que andavam a contactar espaços que tivessem alguma ligação com o Médio Oriente. “Queriam o contacto dos responsáveis. Mesmo que essa lista fosse recolhida com o objetivo de proteger estes espaços, não sei o que poderiam fazer com os contactos em caso de algum ataque contra, por exemplo, a embaixada sionista”, sublinha Ricardo Esteves Ribeiro.

Também na associação cultural BOTA, em Arroios, os responsáveis mostram-se igualmente surpreendidos. A conversa feita pelos agentes com Lily Nóbrega foi no mesmo sentido. Perguntaram se tinham alguma ligação ao Médio Oriente e que estavam a recolher contactos para o caso de haver algum problema. À porta do local está uma bandeira da Palestina e afirmaram que tinham uma lista de associações, restaurantes e organizações religiosas. “Estavam muito atrapalhados, nem sabiam bem explicar. Não sabemos porque é que foram escolhidos determinados locais e ficámos um bocado em estado de choque. É preocupante. Como é que há ordens destas?”, questiona. Com várias iniciativas sobre a Palestina marcadas para o mês de dezembro, garante que não vão voltar atrás. Lily Nóbrega recorda que em vários países estão proibidos símbolos palestinianos e que isto é um sinal de retrocesso.

Persiste a dúvida sobre as ordens dadas aos agentes da PSP e sobre as intenções destas visitas. No contacto com a associação Sirigaita, no Intendente, a PSP também admitiu que tinha uma lista de lugares como mesquitas, restaurantes e associações. A ativista do Sirigaita presente naquele momento pediu para retirarem a associação dessa lista e ficou com a sensação de que poderiam estar a querer oferecer proteção em caso de algum ataque relacionado com a agressão de Israel a Gaza.

Por sua vez, os deputados do PCP à Assembleia da República fizeram um pedido de esclarecimento ao Ministério da Administração Interna. “À luz da Constituição da República Portuguesa e dos Direitos Fundamentais nela consagrados, é forçoso que uma ação deste tipo mereça da parte do Ministério da Administração Interna (MAI) os devidos esclarecimentos”, refere o comunicado do PCP. Os comunistas exigem saber “de quem partiu a ordem para levar a cabo estas ações”. Tem o MAI “conhecimento de alguma ameaça à segurança daqueles que se manifestam em defesa da paz na Palestina e pelos direitos do seu povo?”, questiona o PCP.

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