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Hospital privado recusa assistência a mulher que caiu dentro do edifício

“Limparam-me a cara e perguntaram-me se tinha seguro. Como disse que não, disseram que só para suturar as feridas teria de pagar 300 euros”, foi assim que Fernanda Campelo, de 46 anos, descreveu ao Correio da Manhã o acidente que teve nas escadas rolantes do Hospital Trofa Saúde, em Valongo. Como resultado da queda ficou com lesões graves na cara, pernas e com um braço partido mas apesar de estar dentro de um hospital privado teve de ser assistida num hospital público.

“Fui com a minha sogra fazer uns exames e nas escadas ela desequilibrou-se. Ao tentar ajudá-la caí de cabeça”, explicou. No hospital privado, fizeram-lhe saber que não tendo seguro teria de receber tratamento noutro lugar. Chamaram o marido que aguardava no exterior que acabou por ligar para o 112.

“Chamei o INEM e ela foi levada para o S. João, onde levou mais de 15 pontos na cabeça e foi tratada aos restantes ferimentos”, afirmou Rui Teixeira, marido de Fernanda, que apresentou queixa na GNR contra o hospital. “Não quero indemnizações, só quero justiça. Isto não se faz”, observou. 

Para o diretor clínico do Trofa Saúde Alfena, numa publicação no Facebook, a responsabilidade da queda foi a mulher que terá ignorado “os avisos expressos de forma cristalina no sentido de pessoas idosas evitarem as escadas rolantes”, pelo que, frisa, a queda era “mais que previsível”.

“Não resultando de incúria do Hospital, não tendo o doente seguro de saúde ou subsistema financiador, a resposta clara, na lógica de qualquer privado, é: terá de ser o próprio [a pagar]”, alegou José Carlos Vilarinho, numa extensa publicação, intitulada de “Alfena, a Verdade”.

Após o acidente, a mulher foi transportada ao serviço de Urgência e “assistida por dois médicos”. Segundo o médico, teria que ser suturada, fazer um RX ao pulso e, “como teve um traumatismo craniano, será de bom senso fazer TAC cerebral”. Garante que nunca lhe foi negada assistência, mas, “como é lógico”, os curativos teriam custos de 300 euros para as suturas e mais 300 para RX e TAC e Fernanda Campelo “tinha que ser informada” que teria que os pagar.

Idas ao wc controladas por Grupo Trofa Saúde

Já em janeiro, o Grupo Trofa Saúde, ao qual pertence o Hospital Trofa Saúde, em Valongo, tinha sido denunciado pelas piores razões. As idas à casa de banho dos trabalhadores do call center deste grupo são controladas pela administração, segundo informações reveladas pelo Sindicato dos Trabalhadores de Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte.

“Nesta central de contactos do grupo, os trabalhadores são obrigados a registar no computador que usam um código (WC) quando se deslocam à casa de banho”, pode ler-se no comunicado do sindicato. Segundo a denúncia, a situação “já dura há muito tempo e foi agravada, na semana passada, quando a empresa decidiu afixar no quadro os tempos diários despendidos pelos trabalhadores nas pausas, que inclui pausas para a refeição e pausas para a casa de banho. Viola assim a lei e a Constituição da República Portuguesa”, acrescenta.

O sindicato acusa ainda o grupo privado de saúde de “criar um sistema de banco de horas ilegal”, com funcionários a “trabalharem 10, 12 e mais horas diárias sem pagamento de qualquer trabalho suplementar”, com “salários muito baixos”, “não paga a muitos trabalhadores o subsídio de turno de 15% e não fala com o sindicato, nem participou numa reunião do Ministério do Trabalho requerida pelo sindicato”.

A estrutura sindical já pediu a “intervenção urgente da Autoridade para as Condições de Trabalho”.

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