Analysando os acontecimentos

A situação das classes trabalhadoras, longe de melhorar, agrava-se. Os generos escasseiam no mercado, como no periodo agudo da guerra.

No emtanto, teem sido deitadas ao mar toneladas de generos, por estarem estado de putrefacção. As batatas, a que foi fixado o preço de 150 réis o kilo, não se encontram á venda nos estabelecimentos; no emtanto, vendedores ambulantes batem-nos ás portas offerecendo-nos esse tuberculo, a porção que quizermos, ao preço de 200 e 240 o kilo, e deitam-se ao mar, por estarem podres, toneladas e toneladas. A carne já encareceu. O peixe continua a ser vendido a preços elevadissimos. O bacalhau está a 1$300 o kilo. E tudo por esta fórma, aproximando-se o inverno que, no estado a que as cousas chegaram, vae ser terrivel.

A gréve ferro-viaria

Ao fim de 59 dias, se não estamos em erro, terminou finalmente a gréve dos ferro-viarios. Em boa verdade, devemos confessar que de ha muito tinha ella entrado no seu periodo agonico, devendo-se ainda assim a sua longa duração á tactica seguida de fazer apresentar o pessoal que menos necessario se tornava ao serviço, conservandose apenas na resistencia, desesperada aquelle que mais falta fazia, como o das machinas e algum outro em condições identicas. Realmente, a classe ferroviaria manteve-se com brio, defrontando-se aliás com as maiores difficuldades, sugeridas pela intransigencia da Companhia, forte com o apoio incondicional que o governo lhe deu. A sua reentrada ao serviço não a deshonra. Mereceria porém a pena uma tanha resistencia, para afinal se chegar á mesma solução que logo de princípio tinha sido apontada como base para a transigencia? Na nossa humilde opinião, o desfecho não correspondeu á grandiosidadeda lucta. E’ um epilogo por demais pequeno para obra de tão grande folego. Em todo o caso, convimos, a empresa capitalista sae mal ferida da campanha, que lhe occasionou fortes prejuizos, podendo o pessoal, ao render-se, reclamar para si as honras de guerra, posto que se soube manter com altivez em face da coligação natural do dinheiro e do poder.

7 de setembro de 1919

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