Iniciou domingo a sua publicação este jornal diário, porta-voz da organisação operaria portugueza. Do seu artigo de apresentação recortamos os seguintes periodos:

“Bem sabemos nós que A Batalha, que será na imprensa o porta-voz da organisação operaria nacional e, portanto, o interpreto das generosas aspirações da legião trabalhadora, d’essa legião que, ao mesmo tempo que, em lucta afanos, arranca á natureza uberrima tudo quanto é mister á existencia, anda empenhada n’uma outra lucta não menos ingente, qual é a de marchar em demanda d’um porvir, não de bem-estar apenas para alguns, mas de conforto para todos; bem sabemos nós, iamos dizendo, que A Batalha  é um jornal assás difficil de fazer, não só porque é a primeira vez que em Portugal apparece um jornal lançado pela Central dos Syndicatos, e, portanto, com um caracter inédito, mas tambem porque n’este momento mundo operario convulsiona-se na ancia bem legitima de diminuir o predominio da classe rica, conquistando-lhe, uma parcella de regalias até agora usurpadas e para que o proletariado portuguez acompanhe sob esse aspecto, a acção que lá fóra se está desenvolvendo, não basta fazer propaganda: é necessario que essa propaganda seja realidade com a maior acuidade. Só assim ella logrará materialisar, a pouco e pouco, as nossas aspirações mais caras, só assim ella poderá produzir os almejados effeitos.

Dois factos da historia nacional

Antes dos soldados portuguezes e inglezes baterem os francezes no Bussaco, já os populares, organisados em milicias, tinham demonstrado, com valentia, que não se opprimem impunemente os descendentes de Viriato.

Um seculo depois, no anno de 1919, depois de implantado o regimen republicano em Portugal, os monarchicos, aproveitando as discordias dos dirigentes politicos, hasteiam, no Porto e n’outras povoações do norte, a bandeira azul e branca.

Em Lisboa, esboça-se tambem uma revolta monarchica, e na serra de Monsanto fluctua, durante algumas horas, a bandeira dos realistas.

Mas os civis, descendentes dos bravos populares que no seculo proximo passado atacaram os soldados do imperador dos francezes correm pressurosos, ao lado dos soldados portuguezes, e, a breve trecho, o pendão dos monarchicos é abatido e triumpha a Republica.

No emtanto, no Porto e em parte do norte de Portugal, desenvolve-se uma energica acção militar, que, parecia prolongar-se, quando, na vetusta e liberal cidade do 31 de janeiro, a alma popular vibra com animo altivo, e novamente o pavilhão republicano é hasteado aos accordes da Portugueza, hymno nacional que Alfredo Keil nos legou.

5 de março de 1919

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