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À hora que escrevemos, no proprio dia d’A Voz do Operario ir para a machina, continúa em gréve o pessoal ferroviario

À hora que escrevemos, no proprio dia d’A Voz do Operario ir para a machina, continúa em gréve o pessoal ferro-viario. Por mais diligencias que se tenham feito para solucionar este conflicto, todas estas tentativas teem esbarrado com a intransigencia da Companhia e do governo. A Companhia declara não attender as reclamações do seu pessoal, sem que elle dê entrada no serviço, o que é uma forma pratica de protelar indefinidamente o assumpto. Quanto ao governo, agarra-se ao mesmo bordão, sem querer saber se, no prolongamento d’este conflicto, são prejudicados, não só os operarios em gréve, como ainda todo o paiz, na sua vida economica.

De resto, o governo já tornou publico o seu proposito de perseguir todos os meneurs de gréves, como se as gréves não fossem a consequencia do mau estar social, da incuria dos governos que se teem colocado de cócoras deanto das ambições capitalistas.

Pela nossa parte, como trabalhadores, victimas do mau estar social, enviamos aos grévistas o testemunho do nosso affecto e da nossa sympathia, fazendo votos pelo triumpho da sua causa.

Tivemos na noite de quarta-feira uma arbitrariedade que não podemos deixar em claro. Sob pretextos irrisorios, a União Operaria Nacional e a Federação do Livro e do Jornal eram invadidas pela militança e encerradas, sendo presos todos quantos ali se encontravam, bem como todas as pessoas encontradas n’uma reunião na Rua dos Fanqueiros, promovida pela Juventude Syndicalista. O total das prisões elevou-se a mais de 200. Por esse motivo, foram tambem inhibidos de se publicar os nossos collegas A Batalha e o A’vante, sobre os quaes já pesa a acção reaccionaria e intolerante da Mesa Censoria.

À hora a que escrevemos, já as associações foram reabertas e alguns dos presos postos em liberdade. Sobre outros, porém, está-se fazendo um apuramento, para saber se são agitadores, crime horripilante que põe os cabellos em pé aos nossos politicos.

Não estranhamos este ataque á organização syndical. Todas as vezes que os democraticos estão no poder, ha d’estas fitas. O que não podemos deixar é de lavrar o nosso protesto contra estas arbitrariedades do poder. E aos nossos collegas da imprensa, victimas da odiosa perseguição, o testemunho da nossa solidariedade.

3 de agosto de 1919

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