Opinião

Saúde

Eutanásia, entre o direito à vida e ao dever de permanecer vivo

Ao longo dos anos assistimos ao debate em torno desta questão, a Eutanásia. Inúmeros argumentos de quem a defende e de quem a condena.

Ao longo dos anos assistimos ao debate em torno desta questão, a Eutanásia. Inúmeros argumentos de quem a defende e de quem a condena. 

Quem a defende assenta o seu discurso na autodeterminação e no seu direto à escolha.

É importante compreendermos que na doença terminal de evolução prolongada está presente um grande sofrimento quer físico, quer psicológico, quer espiritual. A pessoa vê-se, muitas vezes presa num corpo que já não é o seu, muitas vezes, modificado pela doença e/ou tratamentos, incapaz de continuar a sua vida como a desenhou, incapaz de fazer as coisas mais básicas por si.

Quanto ao sofrimento físico, a evolução dos tratamentos permite tentar dar resposta aos mesmos. No entanto, é importante ressalvar aqui que este processo de ajuste terapêutico até ao equilíbrio entre os sintomas e os efeitos secundários, pode ser por si, um processo que a pessoa já não queira passar mais.

Este continuo reajuste de expectativas, de novas limitações, conduz ao sofrimento, que vai muito além do físico. Há também terapias que devem ser implementadas, que visam minora-lo, mas mais uma vez, num processo prolongado como este, a pessoa pode também não querer mais passar por ele. No fundo a pessoa chegou ao que entende ser um caminho sem outra saída, vê a sua autonomia roubada por uma doença e quer ela decidir quando termina. O pedido é o último e único ato de autonomia, que vê possível.

E surgem os argumentos contra, os profissionais de saúde que têm nas suas bases éticas o ajudar no sofrimento do outro, o tratar, o cuidar, podem não conceber sequer a ideia de terminar a vida do outro, para lhe terminar o sofrimento. É possível que sintam este pedido como uma falha, como uma incapacidade de realmente ajudar o outro.

Na sociedade há o receio da utilização indevida, “splippery slope”, exemplos de países em que começou de uma forma, e com o passar do tempo algumas restrições foram caindo. Há a preocupação, que a aprovação da lei fará desviar a atenção sobre o desenvolvimento e alargamento do acesso a cuidados paliativos, onde é necessário investir e que ainda há um longo caminho a percorrer.

O que não deixa de ser uma realidade. No entanto a inclusão dos mesmos, só quando é pedida a eutanásia, é tardia e corre o risco de ser ineficaz, não deixando, no entanto, de ser fundamental.

Outros encaram como uma falha da sociedade, que não se desenvolveu de modo a incluir e a dar resposta a estas pessoas, e que desta forma é mais uma afirmação do seu abandono. Há o receio deste pedido, ter como origem o sentimento de peso para a família por parte dos doentes, a falta de resposta quer no setor social, quer nos cuidados de saúde pode apontar a eutanásia como uma solução única, quando poderia ser feito mais. 

Por fim, é importante ressalvar, que o que o decreto-lei recentemente aprovado, o que pretende, com a despenalização não é tornar a eutanásia uma prática comum, é permitir àquela pessoa, em particular, que cumpre todos os inúmeros critérios, ter acesso a esta resposta, a única que vê possível ao seu problema, é permitir que os profissionais de saúde, que já esgotaram todas as outras opções consigam atender a este pedido, sem que com isso cometam nenhum crime.

Artigos Relacionados