Ainda com uma campanha às eleições autárquicas pela frente, os candidatos às presidenciais tentam posicionar-se no tabuleiro político e até agora parece evidente que proliferam as candidaturas de direita. Num contexto político revolto, com um crescimento exponencial da extrema-direita e com o governo a piscar o olho ao Chega, a candidatura mais à esquerda é a de António Filipe.
Com 62 anos, nasceu em Lisboa e cresceu na Amadora. Tornou-se jurista e professor universitário, foi eleito deputado pelo PCP sucessivamente entre 1989 e 2022 e, posteriormente, entre 2024 e 2025, assumindo o cargo da vice-presidência da Assembleia da República em três legislaturas. No plano autárquico, foi membro da Assembleia Municipal da Amadora entre 1993 e 2001 e da Assembleia Municipal de Sintra entre 2004 e 2019. Em 2001, foi candidato pela CDU à Presidência da Câmara Municipal da Amadora, tendo sido eleito vereador.
“A nossa voz”
Perante o salão d’A Voz do Operário cheio, o candidato presidencial sublinhou que a não foi por acaso que escolher apresentar a sua candidatura “nesta coletividade centenária, de que sou sócio há mais de 30 anos, construída pelo movimento operário no século XIX, mantida em atividade apesar das perseguições policiais nos 48 anos da ditadura fascista, realidade viva e vibrante do movimento associativo da cidade de Lisboa neste século XXI, e que mantém orgulhosamente neste salão a nobre consigna ‘trabalhadores uni-vos’”, explicou António Filipe. O ex-deputado comunista afirmou que A Voz do Operário é “a nossa voz” e que a sua candidatura será “a voz dos anseios de todos os trabalhadores, a voz de todos os que criam a riqueza e não usufruem dela, a voz de todos os que nunca desistem de lutar pela sociedade livre, justa e solidária a que alude o artigo 1.º da Constituição da República”.
No seu discurso, analisou a atual situação do país, marcada por “profundas desigualdades e injustiças” e “importantes défices estruturais”, destacando que a direita controla todos os órgãos de soberania e que há “uma ampla maioria na Assembleia da República que dá suporte a um Governo apostado em levar por diante uma agenda reacionária”.
Nesse sentido, António Filipe justificou a sua candidatura com a necessidade de uma figura que no campo democrático “se identificasse sem reservas com os valores de Abril consagrados na Constituição, uma candidatura capaz de unir os democratas que não se conformam com o facto de a direita controlar todos os órgãos de soberania, uma candidatura capaz de unir os portugueses na luta por uma alternativa ao estado a que chegámos, uma candidatura que resgatasse a esperança e abrisse horizontes de futuro”. Concluiu dizendo que “essa candidatura faltava, mas já não falta”. Antes de encerrar a intervenção, citou o poeta Manuel Gusmão afirmando que esta é a candidatura “da esperança que não fica à espera” e que o país “exige um sobressalto democrtático” a que pretende dar corpo.
