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A luta política e social de Loach

Ken Loach nunca escondeu o pendor político na sua extensa filmografia, em prol das classes e grupos sociais mais desfavorecidos. “Kes”, de 1969, centra-se na relação de Billy Casper com um falcão peregrino numa aldeia mineira. O filme, que tem tanto de belo como de trágico, revela a dureza da vida naquela comunidade, onde já não há lugar para uma criança ser livre, sonhar e brincar. Mais recentemente, “Eu, Daniel Blake”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes (2016), fala da perversão do burocrático sistema de segurança social britânico, pouco tolerante com os trabalhadores inaptos para trabalhar e que ficam sem qualquer apoio. À semelhança de outras obras de Loach, é a solidariedade entre estranhos que perdura. 

Os filmes do realizador britânico são um espelho sociológico contemporâneo. Em “Passámos por Cá” (2019), o seu penúltimo filme, assistimos ao drama dos trabalhadores explorados por grandes empresas e considerados “máquinas de produção”, no advento do capitalismo selvagem. As consequências são pessoais: a exploração laboral corrói o bem-estar familiar.

É provável que “O Pub the Oak Tree”, de 2023, seja o último filme de Loach (que conta já com 88 anos). Loach regressa a uma vila mineira britânica onde uma comunidade sem esperança, se revela intolerante face à chegada de refugiados sírios. Uma jovem e o dono de um bar conseguem temporariamente quebrar os preconceitos e racismo dos habitantes, com a criação de uma cantina comunitária. 

Em “Terra e Liberdade”, o filme sublinha a luta resistente de pessoas que perceberam que, unidas, poderiam derrotar o avanço do fascismo – fosse em Espanha ou em qualquer outro país do mundo. Os milicianos partilham um ideal de liberdade e justiça humana. É um filme de personagens audazes. Um filme que aprofunda a visão popular face à queda dos latifundiários que os exploravam: entre a colectivização e a divisão das terras. Lembremos o caso de “Torre Bela”, obra de 1975 realizada por Thomas Harlam, que debate semelhantes questões no Portugal revolucionário do pós-25 de Abril. 

Desfecho: passado e presente na luta pelo amanhã

Em “Terra e Liberdade”, David reencontra Blanca no seu regresso à milícia. Depois do que passaram todos juntos, será difícil o regresso a casa, a uma vida que não conta com a luta armada pela liberdade. O atentado fatal contra Blanca vaticina o fim do grupo. Porém, a voz que escutamos no funeral da miliciana é de resistência: “A batalha é longa, eles são muitos, mas nós somos mais. Seremos sempre muitos mais”. David apanha terra para o seu lenço vermelho. Passamos para o funeral do próprio David, em Inglaterra. 

A neta tem agora outro entendimento sobre quem foi o avô. Leu todas as suas cartas e recortes dos jornais, que David acumulou ao longo daquele que foi o momento mais importante da sua vida. Lê um excerto de um poema de William Morris encontrado entre os papéis: “Junta-te à única batalha em que nenhum homem pode falhar, / Onde aquele que desvanece e morre, ainda assim a sua acção prevalecerá.” E atira para a campa de David a terra que este tinha trazido. Terra de Espanha; ou, acima de tudo, a terra que pertence ao povo e à luta pela liberdade. 

“Terra e Liberdade” clama, a cada cena, um futuro livre por definir e conquistar. “O amanhã é nosso, companheiros.” são as derradeiras palavras proclamadas pela resistência unida. A luta do amanhã nasce hoje. Na esperança, comunhão e combate contra qualquer forma de opressão à liberdade e direitos fundamentais do povo.

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