Ainda com os votos do exterior por contar, o PS superou os 115 deputados, a marca necessária para aceder à maioria absoluta na Assembleia da República.
Pode dizer-se que o mapa eleitoral sofreu uma hecatombe. A descida da abstenção fazia já adivinhar algum desfecho mais extraordinário e as sondagens ajudaram a mobilizar para o que veio a acontecer: a maioria absoluta do PS. A forte bipolarização mediática e o receio do regresso dos partidos de direita provocaram severas perdas nos partidos à esquerda do PS. Por outro lado, a tendência em queda do PSD e o desaparecimento, na Assembleia da República, do CDS-PP potenciaram o crescimento do Chega e da IL.
Com quatro anos de estabilidade parlamentar pela frente, António Costa vai enfrentar o repto de mostrar que estabilidade governamental significa estabilidade social. Mais. Sem depender dos partidos à sua esquerda, veremos para que lado se inclina a balança de um futuro executivo de um partido que nunca teve pudor em governar à direita.
Nesse sentido, nenhum balanço eleitoral ficaria completo sem as posições dos sindicatos e dos patrões. Estes últimos parecem ter ficado satisfeitos com o resultado eleitoral. Questionado sobre se a vitória do PS o teria deixado apreensivo, António Saraiva, representante dos patrões enquanto presidente da Confederação Empresarial de Portugal, respondeu que não. À Antena 1, recordou que aquilo que o PS ia dizendo, através de António Costa, é que o governo “estava refém dos partidos da esquerda parlamentar, dos acordos que tinha de fazer para a aprovação dos orçamentos”. Assim, o homem que recebeu um pedido de desculpas do primeiro-ministro por ter aprovado medidas na área do trabalho sem consultar os patrões considerou que o PS se libertou desse “constrangimento” e que há que “aproveitar” agora esta maioria absoluta para “um novo ciclo económico”. Já antes das eleições, António Saraiva tinha apelado, na TSF, a um entendimento entre o PS e o PSD no caso de não haver maioria absoluta e apontava prioridades como “uma reforma fiscal, passando pela reforma da justiça e da administração pública”, criticando a contratação de funcionários públicos e o aumento do salário mínimo.
Contudo, no seio dos sindicatos, a maioria absoluta e a descida dos partidos de esquerda não foi bem recebida. Em comunicado, a CGTP-IN recordou o contexto marcado pela bipolarização e apontou o dedo à “difusão da falsa ideia de que se estava a eleger o primeiro-ministro” através da publicação “de sondagens que colocavam dúvidas quanto ao partido mais votado que não se vieram, nem de perto nem de longe, a confirmar”.
A principal central sindical portuguesa destacou ainda o aumento da votação “nas forças mais reacionárias e de extrema-direita” e apontou políticas progressistas que respondam “às necessidades e anseios” dos trabalhadores como solução para combater o “populismo e o individualismo”. Nesse sentido, recordou a importância da revogação de “normas gravosas” presentes na legislação laboral e a “necessidade de reforço dos serviços públicos e funções sociais do Estado”. A precariedade, baixos salários e a contratação coletiva vão continuar a ser prioridades da CGTP-IN, que entende que a maioria absoluta vai “elevar a resistência do PS à resolução dos problemas”. Em consequência, a central sindical apela à “organização, unidade e luta dos trabalhadores”.
Para 17 e 18 de fevereiro estão já marcadas reuniões do Conselho Nacional e plenário de sindicatos para analisar o atual quadro político saído das eleições legislativas.