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Partidos palestinianos acordam unidade para governar o país

A China intermedeia a unidade entre as forças palestinianas que, pela primeira vez quase em 20 anos, acordaram governar juntas a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Esta decisão é uma derrota para a estratégia de Israel de dividir a resistência à ocupação da Palestina.

Com a mediação da China, 14 organizações da resistência palestiniana, onde se incluem o Hamas, a Fatah e a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), concordaram em pôr fim às divisões, sobretudo entre as duas maiores forças políticas, e construir “um governo de unidade nacional temporário” com autoridade sobre todos os territórios palestinianos. A assinatura deste acordo aconteceu em Pequim e é uma importante mensagem de força para o exterior.

Há décadas que Israel apostava na divisão das forças palestinianas e no enfraquecimento das organizações laicas e de esquerda. Na década de 80, Telavive ajudou o Hamas a ganhar influência em oposição à Fatah de Iasser Arafat e a forças de esquerda como a FPLP. Na época, não parecia uma contradição quando o principal aliado de Israel, os Estados Unidos, treinava e armava combatentes religiosos no Paquistão para travar o apoio das forças soviéticas ao governo afegão. Em 1985, numa cerimónia na Casa Branca em que participaram vários destes combatentes, o presidente Ronald Reagan, declarou que aqueles homens eram “o equivalente moral dos pais fundadores da América”. Aqueles homens eram o embrião da futura al-Qaeda e, em 2010, Hillary Clinton, então secretária de Estado, reconhecia que terem treinado, equipado e financiado gente como Bin Laden “não resultou muito bem”.
Ao mesmo tempo, em Gaza, o Brigadeiro-General Yitzhak Segev, governador militar daquele território, revelou que lhe tinha sido atribuído um orçamento para financiar islamistas palestinianos para contrariar o poder dos secularistas. O Hamas, um ramo palestiniano da Irmandade Muçulmana, foi criado com o apoio de Israel pouco depois do início da primeira Intifada, em 1987. De acordo com o jornal israelita Haaretz, Israel permitiu que o Qatar canalizasse 1,8 mil milhões de dólares para o Hamas entre 2012 e 2021.

Depois da morte do histórico líder palestiniano Iasser Arafat, em 2004, o Hamas ganhou as eleições legislativas que decorreram dois anos depois. Com um presidente da Fatah e um governo do Hamas, as duas forças maioritárias começaram um conflito interno que dificultou a administração de Gaza e da Cisjordânia e a realização de eleições. Para Israel, a divisão dos palestinianos ajudou no seu propósito de manter a ocupação e, simultaneamente, de apresentar ao mundo a resistência palestiniana como uma entidade dispersa e incapaz de governar, atrasando o reconhecimento do Estado palestiniano por parte da comunidade internacional.

Apoiado por países como o Egito, a Turquia, o Qatar e a Arábia Saudita, o Hamas foi assumindo posições coerentes com a visão geopolítica desses países. Por exemplo, em 2011, apoiou as forças terroristas que tentaram derrubar Bashar al-Assad na Síria. Ao longo dos anos, ainda assim, o Hezbollah, força libanesa xiita e com fortes ligações ao Irão, foi ganhando influência sobre os dirigentes do Hamas na Faixa de Gaza. Com a entrada em força da China na cena diplomática internacional, o Irão e a Arábia Saudita assinaram a paz no Iémen. O Hamas visitou Damasco num gesto de reconhecimento de Bashar al-Assad, e a relação com o Hezbollah, cada vez mais forte, ditou, simultaneamente, uma proximidade maior entre as diferentes organizações da resistência palestiniana na Faixa de Gaza. 

Apesar das divisões políticas entre os partidos palestinianos, os seus braços armados combatiam já, muitas vezes, em conjunto contra os ocupantes de Israel. No caso da atual ofensiva israelita sobre Gaza, as forças da resistência atuam em conjunto. Desde 2018 que há uma estrutura criada para coordenar a atividade militar palestiniana chamada sala de operações conjuntas. Neste comando central, o Hamas tem o maior peso como principal força política e armada em Gaza.

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