Sociedade

25 de Abril

Há 50 anos, contra-revolucionários lançaram campanha de terror contra a esquerda

Com o apoio da CIA e da Igreja, e com ligações ao CDS, PSD e PS, várias forças terroristas de extrema-direita procuraram acabar com a revolução através da violência.

Em 10 de março de 1975, um dia antes da tentativa de golpe de Estado liderada pelo general António de Spínola contra o processo revolucionário desencadeado em abril do ano anterior, A Voz do Operário recebeu uma chamada anónima, informando que daí a meia hora rebentaria uma bomba nas suas instalações. “Chegou a hora de calar A Voz do Operário”, foi assim que terminou o telefonema. As centenas de crianças que se encontravam dentro do edifício foram imediatamente retiradas e a polícia revistou as instalações sem ter encontrado qualquer engenho explosivo.

Durante a longa noite fascista, o jornal A Voz do Operário foi várias vezes objeto de cortes pela censura e muitos dos dirigentes da instituição foram perseguidos pela ditadura. Com o processo revolucionário, os trabalhadores, os militares e o povo foram os protagonistas de um período histórico que incluiu a nacionalização da banca, de setores estratégicos da economia, a reforma agrária e a alfabetização. Nesse processo, participou também A Voz do Operário, sendo, por isso, vítima do assédio da campanha terrorista da extrema-direita.

Em 2017, o jornalista Miguel Carvalho lançou o livro Quando Portugal Ardeu, obra fundamental para conhecer a violência promovida pelas forças contra-revolucionárias com o objetivo de combater a esquerda, sobretudo os comunistas. Nele se descreve como estas organizações encabeçaram pelo menos 566 atos terroristas entre maio de 1975 e abril de 1977, cerca de 24 ações violentas por mês que causaram mais de 10 mortes e danos patrimoniais graves. De acordo com Miguel Carvalho, numa entrevista ao Diário de Notícias, os partidos de esquerda, com o PCP à cabeça, foram os alvos de quase 80% das bombas incendiárias, apedrejamentos e atentados. Dirigente do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), na época liderado por António de Spínola, um dos movimentos responsáveis por estes quase 600 ataques terroristas, Diogo Pacheco de Amorim, deputado eleito do Chega, é agora vice-presidente da Assembleia da República. Esta organização contou com o apoio dos serviços secretos norte-americanos, da Igreja e teve ligações a figuras do CDS, PSD e também do PS. Mais tarde, o que fora na época Presidente da República, Costa Gomes, escreveu nas suas memórias que não tinha dúvida nenhuma “de que alguns responsáveis da Igreja desempenharam um papel muito negativo no terrorismo generalizado que se instalou no país, em especial a norte do Douro, mas que se prolongou até às Beiras e ao Centro”.

Ao Jornal de Notícias, Miguel Carvalho viria a dizer que uma das grandes surpresas da sua investigação fora descobrir “um grau de envolvimento muito grande” do PS com a rede bombista e os seus objetivos. [O PS], afirmou o jornalista, “achou, a determinada altura, que valia tudo para combater o PCP e isso significou, em certo momento, uma cumplicidade com o radicalismo de direita”. O MDLP foi condenado em tribunal pelo assassinato do padre Max e da estudante Maria de Lurdes, mas foi também responsável por outros crimes como a morte de Rosinda Teixeira, mulher do operário têxtil e sindicalista António Teixeira, o verdadeiro alvo da explosão provocada pelo atentado contra a sua casa. Em 22 de abril de 1976, um ataque terrorista contra a Embaixada de Cuba, em Lisboa, provocou a morte de dois diplomatas: Adriana Corcho de 36 anos e Efrén Monteagudo de 33 anos. No mesmo mês, a sede do PCP na Avenida da Liberdade foi alvo de um novo atentado com um carro armadilhado. Morreu um jovem e houve vários feridos. Um outro ataque ao Centro de Trabalho do PCP em Aveiro voltou a provocar a morte de uma pessoa.

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