Num relativamente curto prazo, a língua portuguesa viu-se acrescentada no uso corrente de, pelo menos, três termos. O que só demonstra a sua perene vivência. Foram elas gentrificação, resiliência e, muito recentemente, remanejamento.

Do primeiro foi bem conhecido o significado e brutalmente sentido em muitos sítios do nosso país e por muitos setores da população e terá sido um mal maior que o fez encolher, mas é quase certo que há de voltar, se uma política pública adequada não lhe cortar as voltas…

O segundo é termo pedido emprestado à física dos materiais. Diz o dicionário Houaiss que “é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica” (o exemplo clássico é o caso de uma mola) e diz também o dicionário que é a capacidade de se recobrar facilmente ou de se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Se nos debruçarmos sobre a História é fácil deparar com a ambiguidade do conceito pois se a aristocracia se mostrou resiliente em relação ao liberalismo económico da Revolução Francesa, o mesmo liberalismo se mostrou resiliente em relação à Revolução Socialista e, entre nós, um grupo político que faz agora 100 anos foi sempre resiliente em relação à ditadura. 

O terceiro termo, o remanejamento, até há pouco tempo remetido para a quietude dos dicionários, pode definir-se como “uma produção intelectual que aproveitando todos ou parte dos elementos de análise recolhidos num determinado espaço de tempo antecedente, reformula hipóteses ou programas de atuação.” 

Muito embora se apresente na linguagem corrente como um neologismo, a verdade é que está muito presente no quotidiano de muitos e pode dizer-se que é fundamento da pesquisa e do espírito científico. O meteorologista ajusta minuto a minuto as suas previsões; o médico que segue um doente receita após o diagnóstico e este fundamenta-se nos exames e análises que lhe são presentes e até à cura nunca deixa de remanejar a terapia; numa outra escala de tempo, qualquer governo, do Poder Central ao Poder Local, toma as suas decisões no que lhe dizem os censos e todos os outros indicadores da evolução; e, ao nível do quotidiano, qualquer gesto doméstico (aqui se tem a ousadia de abandonar o termo de dona de casa) altera certamente as suas intensões de compra perante a oferta e as alterações de preços com que se depara dia-a-dia no mercado. Faz também remanejamento. 

Pode-se, com liberdade de expressão, colocar a histeria em oposição ao remanejamento pois se o primeiro termo se manifesta por uma reação despropositada imediata e muitas vezes violenta a um estímulo, o remanejamento coloca-se no campo da análise e da proposta ponderada. 

Foi ditado por este sentir que, na Europa, muitos governos decidiram o que fazer em relação ao Covid-19 com base no ocorrido nas três ou quatro semanas antecedentes. Os êxitos e os fracassos.

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